Sobre a Harmonia das Religiões e a Filosofia
|
||
Acreditamos que o papel da filosofia não é outro que o de olhar para a criação e ponderar sobre ela de modo a sermos guiados para o Criador – em outras palavras, conhecer o significado da existência. Porque o conhecimento da criação leva ao conhecimento do Criador. Quanto mais perfeito se tornar o conhecimento da criação, mais perfeito se tornará o conhecimento do Criador. A Lei nos encoraja e exorta a observar a criação. Portanto, está claro que isto deve ser tomado tanto como injunção religiosa quanto como algo aprovado pela Lei. Mas a Lei nos incita a observar a criação através dos meios da razão e exige o conhecimento através da razão. Isto é evidente em diferentes versículos do Alcorão. “Portanto,
os tomem como exemplo, vocês que podem ver” (surata 49: 2) Esta
é uma indicação clara da necessidade do uso da faculdade da razão, ou mais
ainda de ambas, razão e religião na interpretação das coisas. De novo o
Alcorão diz: “Eles
não contemplam os reinos dos céus e da terra e as coisas que Deus tem
criado?” (surata 7:184). Esta
é uma exortação clara ao uso da observação da criação. Uma
vez que a Lei enfatiza o conhecimento de Deus e de Sua criação pela inferência,
é incumbência de todo aquele que deseja conhecer Deus e Sua criação inteira
por inferência, aprender os tipos de inferência, suas condições e o que
distingue a filosofia da dialética e exortação de silogismo. Isto é impossível
a menos que se possua de antemão o conhecimento dos vários tipos de razão e
que se aprenda a distinguir entre o que é razão e o que não é. Isto não
pode ser feito a menos que se conheça suas diferentes partes, isto é, os
diferentes tipos de premissas. Tudo
que é requerido de um estudo sobre o raciocínio filosófico já foi
perfeitamente examinado pelos Antigos. O que é requerido de nós (muçulmanos)
é voltar aos seus livros e ver o que eles dizem. Se tudo que disserem for
verdadeiro, devemos aceitar e se houver algo errado, devemos ser alertados em
relação a isto. Portanto, após terminarmos esta pesquisa teremos adquirido os
instrumentos pelo qual podemos observar o universo e considerar suas características
gerais. Isto
é tudo que penso de uma exposição das crenças de nossa religião, o Islã. O
que nos resta é olhar para as coisas da religião dentro da interpretação que
é permitida, porque a quantidade de desvio que pode ser causada pela interpretação
deve ficar clara. Devemos alcançar nossos propósitos sabendo o que deve ser
interpretado e o que não deve; e quando interpretado, como isto deve ser feito;
e se todas as partes complicadas da Lei e da “Sunnah” são para ser
explicadas ou não.
Este texto é uma versão editada da introdução do trabalho de Averroes conhecido em inglês como 'On the Harmony of Religions and Philosophy'. O trabalho completo está disponível on-line no site Internet Medieval Sourcebook. Todo o material do Medieval Sourcebook pode ser distribuído livremente. Nota: Averroes é o nome com a qual é conhecido no Ocidente o filósofo muçulmano Ibn Rushud, que viveu de 1126 a 1198 da Era Comum.
|