“Tratamento da alma, cura do coração” -  Os médicos muçulmanos e sua importante contribuição para a saúde mental

 

Os gregos antigos definiram transtornos mentais como “estar possuído e sendo punido pelos deuses por erros, só podendo ser curado pela oração”. Os médicos e filósofos gregos escreveram as suas teorias sobre o tratamento de alguns transtornos mentais sem praticar. Nas sociedades judaico-cristãs, a doença mental foi muitas vezes vista como um “castigo divino” e “um dom divino”. Alguns distúrbios mentais eram bem conhecidos na antiga Mesopotâmia, no Egito Antigo,  na Pérsia, na Índia e na China. Com o advento do Islã, surgiu uma revolução em todos os ramos científicos, incluindo a psicologia, que mais tarde influenciaria fortemente a psicologia moderna ocidental.

Os médicos muçulmanos eram interessados em todos os ramos da medicina, incluindo a psicologia. Na fase inicial da medicina islâmica, a psicologia foi incluída na medicina geral. Depois disso, os médicos muçulmanos a classificaram como um ramo separado na medicina. A partir daquele momento passaram a chamá-la de “'ilaadj an-nafs” (o tratamento da alma) ou ‘tib al-qalb’ (cura do coração ou medicina mental).

Os médicos muçulmanos escreveram sobre muitas doenças mentais como ansiedade, depressão, melancolia, epilepsia, esquizofrenia, paranóia, esquecimento, desordem sexual, delírios persecutórios e transtorno obsessivo-compulsivo, entre outras doenças mentais. Eles foram os primeiros a adicionar 'desordem psicossomática' ao vocabulário da história da psicologia. Eles também acreditavam que a doença mental era causada por desequilíbrios químicos que afetam o cérebro.

No Islã medieval, uma pessoa com doença mental era chamada de “madjnun” (tola). Não era considerada como uma persona non grata, um pária ou um bode expiatório. De acordo com a fé islâmica, um muçulmano deve ser gentil com elas e tratá-las bem.

Muitos hospitais foram estabelecidos durante a era pré-islâmica. A idéia foi tirada do tempo do profeta Muhammad, em que o primeiro hospital teve lugar na Mesquita do Profeta em Medina. O primeiro hospital islâmico verdadeiro foi construído no século 9, durante o reinado do califa abássida Harun ar-Rashid, em Bagdá. Os muçulmanos o chamaram de um “Bimaristan”, uma palavra persa que significa “a casa onde as pessoas doentes eram acolhidas e atendidas por pessoal qualificado”. Pessoas com transtornos mentais não eram excluídas.

Médicos e enfermeiros tinham o dever de cuidar de todos os pacientes, independentemente da sua religião, raça, nacionalidade ou gênero. Um Bimaristan devia dar suporte a todos os pacientes, até que se recuperassem totalmente. Cada Bimaristan continha um jardim, uma fonte, uma sala de aula, uma biblioteca, uma cozinha, uma farmácia e salas de oração para muçulmanos e não-muçulmanos. Materiais recreativos e músicos eram selecionados para criar felicidade. Homens e mulheres ficavam em alas separadas, mas igualmente equipadas, e eram acompanhados por médicos, enfermeiros e equipe do mesmo gênero. As enfermarias separadas eram divididas em doença contagiosa, doença não contagiosa, doença ocular, medicina, cirurgia e doenças mentais (isoladas por barras de ferro). O Bimaristan também servia como um centro de troca de informações médicas e como uma escola médica para educar e treinar estudantes. Pela primeira vez na história, exames de licenciamento foram necessários e apenas médicos qualificados eram autorizados a praticar a medicina. Não só para os tratamentos físicos, mas também para os tratamentos mentais.

 

Bimaristan em Damasco

 

A psicologia no Islã medieval tornou-se, depois de um tempo, um ramo separado da medicina. Os primeiros hospitais psiquiátricos foram estabelecidos em Bagdá, Alepo, Córdoba, Fes, Kairouan, Cairo e Istambul. Os viajantes ocidentais que visitaram o mundo muçulmano no século 12 descreveram os métodos terapêuticos que os psicólogos muçulmanos usavam, a atmosfera relaxante e como os muçulmanos tratavam seus pacientes nesses centros terapêuticos. Estes centros eram equipados com todos os meios necessários para fornecer os métodos de tratamento necessários e instalações adicionais, a fim de completar o processo de tratamento. Os médicos muçulmanos usavam vários tratamentos, tais como as formas clássicas de psicoterapia, massagens, medicamentos à base de plantas, meditação, terapia cognitivo-comportamental, terapia com o Alcorão, terapia com música, poesia, terapia ocupacional, banho, aromaterapia, dança, teatro, contadores de histórias , prática de esportes diferentes e cuidadosa atenção à dieta.

Cada paciente era assistido por 2 ajudantes. Pacientes com insônia, por exemplo, eram colocados em salas especiais e eram acompanhados por contadores de história profissionais para ajudá-los a dormirem tranquilamente.

Durante o reinado dos seljúcidas, e mais tarde dos otomanos, muitas “sociedades de cura” foram construídas em torno das mesquitas. Eles as chamavam de “Takaya”, que duraram por séculos e são muito semelhantes aos centros de saúde mental recém-criados nos EUA.

 

Fonte: Artigo Treatment of the Soul, Healing of the Heart - Muslims Physicians and their Important Contribution to Mental Health de Afifa Thabet. Este artigo foi traduzido e reproduzido no Islamic Chat com autorização do site MVSLIM, onde o artigo foi originalmente publicado.

 

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