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Mapa do Império do Sultão Saladino e dos Principados Cruzados
(1171-1193)
Alguns historiadores acreditam que as
motivações para as Cruzadas foram
materiais e psicológicas (ou
espirituais) e deixaram marcas
profundas
principalmente no Ocidente, tanto no
aspecto social quanto religioso. Considerando inicialmente as motivações
materiais pode ser dito que o
incremento demográfico verificado a
partir do
século XI foi fator determinante para a
realização das Cruzadas.
A
necessidade
de expansão e ocupação de novas terras,
muitas vezes exageradas em função da
ambição dos papas e dos senhores
feudais, fez com que as terras do
Oriente se
tornassem cada vez mais atrativas. Também o contexto comercial deve ser
considerado uma vez que, com uma
produção agrícola excedente, o Ocidente
pôde novamente obter produtos do
Oriente, que por sua vez, necessitava
de gêneros alimentícios e
matérias-primas do
Ocidente.
Enquanto Veneza mantinha
estreitos laços comerciais com o
Oriente, através do Egito e do Império
Bizantino,
Gênova, sua maior rival, apoiava os
cruzados providenciando transporte,
provisões e mesmo empréstimo para
custeio das
Cruzadas, em troca de privilégios
comerciais nas cidades que
conquistassem. O mesmo acontecia em
relação à ocupação
da Europa Oriental, onde a Hansa
Teutônica, liga de comerciantes
alemães, mantinha o predomínio no tráfico mercantil do
norte europeu, sendo extremamente
conveniente dominar, ocupar e
colonizar, a pretexto de propagar a
religião cristã, os
territórios dos eslavos, considerados
pagãos.
Alguns historiadores acreditam que as
motivações para as Cruzadas foram
materiais e psicológicas (ou
espirituais) e deixaram marcas
profundas
principalmente no Ocidente, tanto no
aspecto social quanto religioso. Considerando inicialmente as motivações
materiais pode ser dito que o
incremento demográfico verificado a
partir do
século XI foi fator determinante para a
realização das Cruzadas.
A
necessidade
de expansão e ocupação de novas terras,
muitas vezes exageradas em função da
ambição dos papas e dos senhores
feudais, fez com que as terras do
Oriente se
tornassem cada vez mais atrativas. Também o contexto comercial deve ser
considerado uma vez que, com uma
produção agrícola excedente, o Ocidente
pôde novamente obter produtos do
Oriente, que por sua vez, necessitava
de gêneros alimentícios e
matérias-primas do
Ocidente.
Enquanto Veneza mantinha
estreitos laços comerciais com o
Oriente, através do Egito e do Império
Bizantino,
Gênova, sua maior rival, apoiava os
cruzados providenciando transporte,
provisões e mesmo empréstimo para
custeio das
Cruzadas, em troca de privilégios
comerciais nas cidades que
conquistassem. O mesmo acontecia em
relação à ocupação
da Europa Oriental, onde a Hansa
Teutônica, liga de comerciantes
alemães, mantinha o predomínio no tráfico mercantil do
norte europeu, sendo extremamente
conveniente dominar, ocupar e
colonizar, a pretexto de propagar a
religião cristã, os
territórios dos eslavos, considerados
pagãos.
Havia também um contexto social,
decorrente da expansão demográfica,
propício à idéia das Cruzadas: os
camponeses
passaram a ver no comércio uma
alternativa de trabalho mais
compensadora. Muitos se aventuraram
nesta nova atividade
mas, é claro, nem todos foram bem
sucedidos gerando um grupo de
marginalizados.
Outro grupo marginal
eram os
hereges, que apesar de se exporem a
punições físicas e espirituais por
divergirem das doutrinas proclamadas
pela Igreja,
de certa forma contestavam a sociedade
em que viviam, totalmente calcada nos
valores religiosos. Para a Igreja era
de
suma importância combatê-los assim como
para a nobreza feudal, a fim de
garantir a preservação desta sociedade
e dos
privilégios de que desfrutavam.
Sendo
assim, estes dois grupos marginalizados
viram nas Cruzadas a saída para os seus
problemas espirituais e sociais com a
possibilidade de se redimirem de seus
“pecados” lutando em nome de Deus, de
se
livrarem da pobreza e até de receberem
o castigo divino que lhes era devido.
Outro aspecto social importante foi a
situação dos secundogênitos, filhos de nobres que eram desprovidos de terras pelos costumes
sucessórios, que determinavam que apenas
os
primogênitos herdassem a terra e os
demais bens da família. Eles viram nas
Cruzadas a possibilidade de terem suas
próprias
terras.
Associados a todos estes fatores
materiais aparecem as motivações
psicológicas para as Cruzadas. Neste
caso é
importante ressaltar a mentalidade da
época, que era baseada em uma
reciprocidade de direitos e obrigações,
inicialmente
entre o senhor feudal e seu vassalo e
posteriormente estendida as relações
entre o homem e Deus.
O homem recebia
a
terra do seu Senhor e em troca devia
prestar serviço militar lutando contra
os infiéis. É significativo que o ato
de unir as
mãos ao orar, introduzido no ritual
cristão a partir do século X, reproduza
o gesto do vassalo prestando homenagem
ao
senhor feudal. Portanto, a religiosidade da época
estava impregnada destes conceitos,
tendo como ideal de vida cristã um
estilo heróico,
visando atingir a santidade através do
esforço.
As peregrinações a lugares
santos faziam parte de um conjunto de
obrigações que deviam ser observadas e
quanto mais difícil e inacessível fosse
o local da peregrinação, maior era o
interesse dos peregrinos. Dentro deste
contexto psicológico, as Cruzadas devem
ser vistas como “peregrinações
armadas” e faziam com que os cruzados
fossem vistos como homens generosos,
desprendidos e verdadeiros mártires.
Foi desenvolvida então no Ocidente a
concepção de guerra santa mas só no
século XII com São Bernardo, este conceito foi melhor
desenvolvido e justificado,
considerando inclusive que dela
deveriam participar
preferencialmente os maus cristãos, os
grandes pecadores, para a obtenção de
sua purificação.
O discurso do papa Urbano II,
incentivando a ida dos cruzados para
Jerusalém teve grande repercussão nas
camadas
mais populares. Os preparativos da
nobreza feudal eram naturalmente mais
demorados e neste ínterim, a pregação
de um
monge conhecido como Pedro, o eremita,
reuniu bandos de franceses e alemães
que partiram sem nenhum preparo prévio
para o Oriente.
Levados pela fome, este
bando passou a roubar e saquear e o seu
fanatismo fez com que, principalmente
na Alemanha, massacrassem comunidades
judias. Boa parte destes cruzados
morreu no caminho e os que conseguiram
chegar ao Império Bizantino estavam
famintos e desiludidos.
A Primeira Cruzada, organizada pelos
nobres, chegou a Bizâncio e o
imperador bizantino Aleixo I exigiu um
juramento de
fidelidade dos cruzados que previa que
as primeiras terras conquistadas fossem
entregues a Bizâncio, já que aqueles
territórios eram seus antes da
conquista muçulmana.
A recusa em
firmar este juramento por parte dos
cruzados,
estremeceu ainda mais as relações entre
os cruzados e os bizantinos. O objetivo final era chegar em
Jerusalém mas antes cada chefe cruzado
dedicou-se a ações isoladas para obter
conquistas
territoriais em benefício próprio.
Quando finalmente conseguiram penetrar
em Jerusalém após um longo período de
cerco,
o fizeram com uma ferocidade que é
relatada na “História Anônima da
Primeira Cruzada” , onde se afirma que
os
muçulmanos eram perseguidos e
massacrados e que a proporção do
massacre foi tão grande que os cruzados
andavam
com sangue até os tornozelos.
Assim os ocidentais estabeleceram
Estados que entretanto viviam
permanentemente ameaçados ora pelos
bizantinos ora
pelos muçulmanos. Para alguns historiadores esta
hostilidade era resultado também de um
menosprezo por parte de civilizações
mais
refinadas e sofisticadas como a
muçulmana e a bizantina em relação aos
ocidentais, rudes, incultos e
violentos.
Com o aparecimento de um novo líder
muçulmano de grande habilidade política
e militar chamado Saladino, que já
havia
eliminado vários de seus rivais e
reconquistado algumas regiões,
Jerusalém volta novamente para o
controle dos
muçulmanos após um período de 84 anos
nas mãos dos cristãos.
A idéia da Cruzada sofreu um
desvirtuamento a partir do momento em
que foi empregada contra os
bizantinos, também
cristãos, por interesses claramente
políticos e materiais, quando o
príncipe Aleixo pediu o apoio dos
cruzados para
destituir um usurpador que ocupava o
trono de Constantinopla em troca da
promessa de reunificar as Igrejas,
pagamento
de grande quantias em dinheiro e
provisões para os cruzados.
Constantinopla foi retomada mas o
contato entre as populações bizantina e
latina aumentou o ódio que já se
acumulava ao
longo de alguns séculos. E como Aleixo
não cumpriu inteiramente suas
promessas, os latinos atacaram
novamente
Constantinopla, sendo rechaçados
inicialmente mas obtendo êxito em uma
segunda investida, matando, queimando,
violentando e saqueando as riquezas de
Bizâncio.
Novas Cruzadas foram
realizadas, mas gradativamente, em
função do
desvirtuamento na prática da idéia
inicial, começaram a ser contestadas
até que por fim perderam sua razão de
ser e
ficaram desacreditadas.
No próprio Ocidente já havia a luta
contra os chamados inimigos da
Cristandade mas não despertaram a
atenção que as
Cruzadas para o Oriente, até porque no
Ocidente possuíam um caráter contínuo e
regular a partir do momento que os
muçulmanos conquistaram a Península
Ibérica. Estas lutas no Ocidente não
possuíam de início motivações
religiosas. Eram
produto das necessidades surgidas do
crescimento demográfico dos grupos
cristãos que se refugiaram nas
montanhas do
norte da Espanha.
Somente no século XI foi possível
constatar uma mudança significativa na
situação peninsular, em parte em
virtude da
desintegração do califado de Córdoba,
gerando pequenos reinos independentes.
E por outro lado, pelo interesse de
aventureiros e pequenos nobres em obter
terras e glórias para si, levados pela
forte expansão demográfica da Europa.
Com o papa Alexandre II a Reconquista
ganhou contornos religiosos com a
promessa de remissão dos pecados para
aqueles que ajudassem os cristãos
ibéricos na sua luta e a partir daí é
possível empregar o termo Cruzada em
relação à
Reconquista Ibérica.
Mais uma vez os secundogênitos viram
nas Cruzadas a possibilidade de terem
suas próprias terras e os grupos
comerciais
consideravam vantajoso ter uma Ibéria,
fornecedora de matérias-primas
importantes, totalmente cristã.
Para
que a
Cruzada Oriental não esvaziasse a
Cruzada Ocidental, os cristãos ibéricos
foram proibidos pelo papa Pascoal II de
irem à
Terra Santa, concedendo-lhes a mesma
indulgência dada aos da Palestina.
A
Reconquista teve sucessos e retrocessos
sempre vinculados a um maior ou menor
entendimento entre cristãos e a unidade
ou divisão política dos muçulmanos.
Pode-se dizer que as Cruzadas em um
certo sentido fracassaram pois não
atingiram plenamente seus objetivos. A
Cristandade continuou superpovoada em
relação aos recursos disponíveis e a
intenção eclesiástica de pacificar a
Europa
cristã enviando a nobreza sem terras
para zonas periféricas também não foi
bem sucedida.
O ritmo das conquistas
não
acompanhou o crescimento populacional e
as Cruzadas aceleraram a
desestruturação da sociedade feudal,
contribuindo
ainda que indiretamente, para o
acirramento das guerras feudais.
No aspecto religioso, as Cruzadas
contribuíram para acentuar ainda mais
as divergências entre ocidentais e
bizantinos,
colocando por terra as aspirações do
papado de reunificar a Cristandade
através das Cruzadas. Os ocidentais
desenvolveram um complexo de
inferioridade diante daquela
civilização refinada que os tratava de
forma depreciativa e
isto contribuiu para um aumento da
intolerância.
Também os judeus foram vítimas desta
intolerância e mais do que nunca
passaram a ser vistos como os
“assassinos de
Cristo”, embora a verdadeira razão
para a intolerância,
segundo
alguns historiadores, seria o
fato de que em tempos de um comércio
pouco desenvolvido a atividade dos
judeus era útil à sociedade cristã,
entretanto,
com a expansão da economia mercantil
passaram a ser concorrentes
indesejáveis para os cristãos, que se
dedicavam cada
vez mais aos negócios mercantis e
bancários.
Entre cristãos e muçulmanos passou a
haver uma maior tolerância religiosa,
resultado de um maior conhecimento
recíproco que permitiu a constatação de
que as religiões não eram tão
diferentes assim e de que a convivência
era, de
qualquer modo, inevitável.
Com o
fracasso das Cruzadas, foram
desenvolvidas maneiras pacíficas de
levar o Cristianismo a
outros povos e em princípios do século
XII, a idéia missionária começou a
substituir, em parte, a idéia das
Cruzadas.
A conseqüência mais importante das
Cruzadas foi o enfraquecimento da
Igreja, que permitiu uma crescente
oposição ao
clericalismo e como o clero e a
aristocracia estavam intimamente
ligados, logo ficou constatado o duro
golpe que
representou as Cruzadas para a elite da
época. Muitos nobres perderam todo o
seu patrimônio financiando as Cruzadas
e
outros morreram, o que causou o
desaparecimento de várias famílias
nobres.
Em contrapartida, as Cruzadas
contribuíram
para o retrocesso da servidão já que
muitos nobres, por necessidade
financeira, vendiam a liberdade para os
servos. Além
disso, a simples ausência do senhor
permitia a fuga do servo, que
reiniciava sua vida em outro lugar como
artesão ou
comerciante.
No aspecto político deve ser ressaltada
a ampliação da Cristandade Latina e o
grande impulso no processo de
centralização política, que foi
iniciado antes do período das Cruzadas
mas só se completou bem depois, sendo
beneficiado
por elas já que o enfraquecimento ou
desaparecimento de famílias nobres, o
afrouxamento da servidão e o apoio da
burguesia, foram fatores determinantes
para a centralização de poder na mão
dos monarcas.
Alguns historiadores consideram
supervalorizada a influência dos
cruzados no aspecto cultural, não sendo
eles os
responsáveis diretos pela transmissão
de elementos da cultura islâmica para o
Ocidente cristão. Os
cruzados
tanto no Oriente quanto no Ocidente
estariam absorvidos por outros
interesses e não teriam disponibilidade
para dar
atenção a outra cultura e além disso,
grande parte deles não dispunha de
nível cultural suficiente para
assimilar e
retransmitir informações referentes à cultura islâmica.
As Cruzadas entretanto foram
fundamentais para o processo de
transmissão cultural, mas basicamente
no que se refere à
reincorporação na Cristandade de
territórios que ficaram durante muito
tempo sob controle dos muçulmanos, como
a
Ibéria e a Sicília, que estavam
impregnados da cultura islâmica. Entretanto, a existência de
condições favoráveis
à aceitação da influência islâmica
independia das Cruzadas.
Quanto ao sentido inverso, a
transferência de valores culturais
ocidentais para regiões de população
muçulmana, a
contribuição dos cruzados também foi
limitada, uma vez que estes indivíduos
estavam ocupados com interesses
políticos e
econômicos e não culturais e pelo fato
de que a cultura que poderia ser
transmitida, a ocidental, era
claramente inferior à
das regiões ocupadas.
Os
casamentos
mistos, que poderiam ser uma outra
forma de transmissão cultural, só
existiam nas
camadas inferiores da população, já que
a elite muçulmana se casava com
cristãos orientais.
Nas relações internacionais os
resultados das Cruzadas foram o
afastamento Ocidente-Oriente. Embora
passasse a haver
uma maior tolerância, eventualmente as
divergências eram acirradas por
acontecimentos que contribuíam para
aumentar os
ressentimentos, como o massacre na
tomada de Jerusalém onde fontes árabes
registram a matança de 100.000 pessoas
entre guerreiros, mulheres e crianças.
Mesmo considerando que estes números
sejam exagerados, têm um grande valor
simbólico.
Outro fato a relatar
seria
a execução de dois a três mil
prisioneiros muçulmanos, ordenada por
Ricardo
Coração de Leão, que tiveram suas
entranhas abertas e reviradas em busca
de ouro. Com Bizâncio não foi diferente e os
desentendimentos se tornaram
irreversíveis após a Quarta Cruzada.
Devido aos
excessos dos latinos, quando os turcos
estavam prestes a tomar Constantinopla
foi levantada a hipótese de pedir ajuda
aos
ocidentais, ao que um general bizantino
teria respondido que preferia “o
turbante dos muçulmanos à mitra dos
latinos”.
Este afastamento reflete-se até os
dias de hoje e fez com que a Rússia,
herdeira cultural e religiosa de
Bizâncio, mantivesse
ao longo de séculos uma desconfiança
em relação ao Ocidente, e de um modo
mais geral se enraizasse no
inconsciente
coletivo barreiras psicológicas que
impedem um diálogo e compreensão maior
entre o Oriente e o Ocidente.
Elaborado
por Maria C. Moreira, webmistress do Islamic Chat.
Fonte: Livro "As Cruzadas" de Hilário Franco Jr - Ed.
Brasiliense - Rio de Janeiro.
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