A Interpretação de um Cientista Sobre as Referências à Embriologia no Alcorão

 

 

As declarações se referindo à reprodução e desenvolvimento humanos estão dispersos no Alcorão. Apenas recentemente o significado científico de alguns destes versículos foi apreciado em sua totalidade. O longo atraso na interpretação correta destes versículos  resultou principalmente de traduções e comentários  imprecisos e por falta de conhecimento científico.

O interesse nas explicações dos versículos do Alcorão não é recente. Pessoas costumavam perguntar ao profeta Muhamad todo o tipo de questões sobre o significado dos versículos se referindo à reprodução humana. As respostas do Apóstolo formam a base da literatura "hadith".

As traduções dos versículos do Alcorão que estão interpretadas neste documento foram fornecidas pelo Sheikh Abdul Majid Zendani, um professor de Estudos Islâmicos na Universidade do Rei Abdulaziz em Jedá, Arábia Saudita.(*)

"Ele os fez no ventre de vossas mães entre três véus de escuridão"

Esta afirmação é da surata 39:6. Não sabemos quando foi descoberto que os seres humanos se desenvolvem no útero, mas a primeira ilustração de um feto no útero foi desenhada por Leonardo da Vinci no século 15. No século 2, Galeno descreveu as membranas da placenta e do feto em seu livro "Sobre a Formação do Feto".  Consequentemente, médicos no século 7 provavelmente sabiam que o embrião humano se desenvolvia no útero. É improvável que soubessem que se desenvolvia em etapas, embora Aristóteles tivesse descrito os estágios de desenvolvimento de um embrião de pinto no século 4 B.C.  A percepção de que o embrião humano se desenvolve em estágios não foi discutida e ilustrada até o século 15.

Após o microscópio ser descoberto no século 17 por Leeuwenhoek, foram feitas descrições dos estágios iniciais do embrião de pinto. Os estágios dos embriões humanos não foram descritos até o século 20. Streeter (1941) desenvolveu o primeiro sistema de estágios que foi agora substituído por um sistema mais apurado proposto por O'Rahilly (1972).

"Os três véus de escuridão" podem se referir a : 1) a parede abdominal anterior;  2) a parede uterina; e 3) a membrana amniocoriônica (Fig.1). Embora existam outras interpretações desta afirmação, a apresentada aqui parece a mais lógica de um ponto de vista embriológico.

Fig. 1 - Traçado de uma seção sagital do abdômen e pélvis mostrando o feto no útero. Os "véus de escuridão são: 1) a parede abdominal anterior; 2) a parede uterina, e 3) a membrana amniocoriônica.

"Então Nós o colocamos como uma gota em um lugar de descanso".

Esta afirmação é da surata 23:13. A gota ou "nuftah" tem sido interpretada como o esperma ou espermatozóide, mas uma interpretação de melhor significado seria o zigoto que se divide para formar o blastocisto que é implantado no útero ("um lugar de descanso"). Esta interpretação é apoiada por outro versículo no Alcorão que afirma que "o ser humano é criado de uma gota mista."  O zigoto se forma pela união da mistura do esperma com o ovo ("a gota mista").

"Então Nós convertemos a gota em uma estrutura semelhante a uma sanguessuga."

Esta afirmação é da surata 23:14. A palavra "alaqh" se refere a uma sanguessuga. Esta é uma descrição apropriada do embrião humano dos dias 7 a 24 quando se agarra ao endométrio do útero, da mesma forma que uma sanguessuga se agarra à pele. Assim como a sanguessuga obtém sangue de seu hóspede, o embrião humano obtém sangue da decídua ou endométrio grávido. É notável o quanto o embrião de 23-24 dias se assemelha à sanguessuga (Fig.2). Como não existiam microscópios ou lentes disponíveis no século 7, os médicos não teriam como saber que o embrião humano tinha esta aparência semelhante a da sanguessuga. Na parte inicial da quarta semana, o embrião  dificilmente é visível a olho nu porque é menor que um grão de aveia.

Fig. 2 - Em cima, um desenho de uma sanguessuga. Em baixo, um desenho de um embrião humano de 24 dias. Note a aparência do embrião humano semelhante à da sanguessuga neste estágio.

"Então daquela estrutura com aparência de sanguessuga, Nós fizemos um pedaço mastigado."

Esta afirmação também é da surata 23:14.  A palavra árabe "mudghah" significa "substância mastigada ou pedaço mastigado." Por volta do fim da quarta semana, o embrião humano se parece de certa forma com um pedaço mastigado de carne. (Fig.3).  A aparência mastigada resulta dos somitas que se parecem com marcas de dentes. Os somitas representam o início ou primórdia da vértebra.

Fig. 3 - À esquerda, modelo plastificado de embrião humano que tem a aparência de carne mastigada. À direita, o desenho de um embrião humano de 28 dias mostrando vários somitas que lembram marcas de dentes no modelo apresentado à esquerda.

"Então Nós fizemos daquela carne mastigada, ossos, e recobrimos os ossos de carne."

Esta continuação da surata 23:14 indica que a partir do estágio de carne mastigada, ossos e músculos se formam. Isto está de acordo com o desenvolvimento embriológico. Primeiro os ossos formam os modelos de cartilagem e então os músculos (carne) se desenvolvem em torno deles a partir do mesoderma somático.

"Então o desenvolvemos em outra criatura."

A próxima parte da surata 23:14 sugere que os ossos e músculos resultam na formação de uma outra criatura. Isto pode se referir ao embrião de aparência humana que se forma no fim da oitava semana. Neste estágio ele tem características humanas distintas e possui a primórdia de todos os órgãos e partes internas e externas. Após a oitava semana, o embrião humano é chamado feto. Esta pode ser a nova criatura a qual o versículo se refere.

"E Ele deu a vós audição, visão, sentimento e compreensão."

Esta parte da surata 32:9 indica os sentidos especiais da audição, visão e sentimento desenvolvido nesta ordem, o que é verdadeiro. A primórdia do ouvido interno aparece antes da visão, e o cérebro (o lugar do entendimento) se diferencia por último.

"Então de um pedaço de carne mastigada, parte  com forma e parte sem forma."

Esta parte da surata 22:5 parece indicar que o embrião é composto tanto de tecidos diferenciados quanto não-diferenciados. Por exemplo, quando a cartilagem dos ossos está diferenciada, os tecidos conectivos embriônicos em torno delas não estão diferenciados. Posteriormente se diferencia em músculos e ligamentos conectados aos ossos.

"E conservamos no ventre quem queremos até um período determinado."

A próxima parte da surata 22:5 parece sugerir que Deus determina que embriões irão permanecer no útero até o final. É bem conhecido que muitos embriões abortam durante o primeiro mês de desenvolvimento, e que apenas em torno de 30% dos zigotos que se formam, se desenvolvem em fetos que sobrevivem até o nascimento. Este versículo também tem sido interpretado como significando que Deus determina se o embrião irá se desenvolver em um menino ou menina.

A interpretação destes versículos no Alcorão se referindo ao desenvolvimento humano não teriam sido possíveis no século 7, ou mesmo há cem anos atrás. Podemos interpretá-los agora porque a ciência da moderna Embriologia nos permite entendimento novo. Sem dúvida existem outros versículos no Alcorão relacionados ao desenvolvimento humano que serão compreendidos no futuro à medida que nosso conhecimento aumenta.

 

Tradução do texto "A Scientist's Interpretation of References to Embryology in the Qur'an" do Dr. Keith L. Moore, Ph.D, F.I.A.C, do Departamento de Anatomia da Universidade de Toronto, no Canadá. Este texto foi retirado do site "Eternal Path to Peace"

 

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