Termos Básicos
em Jurisprudência Islâmica
Fiqh
Linguisticamente, Fiqh significa ter conhecimento em algo. Como um
termo de jurisprudência, Fiqh assume dois significados:
Ter conhecimento das regras da Shariah (Lei Islâmica) que é extraída
de fontes legisladoras. Como um exemplo a Fiqh nos permite saber das
regras do aborto; entretanto, devemos saber como e de onde esta
regra foi tirada.
Todas as leis islâmicas. Esta definiçao é sinônima ao termo Shariah. (* Ver nota no final do texto)
Usul Al
Fiqh
É a coleção dos principais pertences da metodologia de extração do fiqh. O conceito de Usul al Fiqh
é comparável à metodologia da condução de um experimento científico. Similarmente, aderir
à
metodologia na derivação de Fiqh (regras) é conhecido como Usul al
Fiqh. Essa metodologia fornece um meio para uma pessoa derivar normas
islâmicas das fontes legisladoras no Islã.
A
coleção de princípios relacionados a Usul al Fiqh é extensa. Alguns
exemplos dessas normas são discutidos a seguir.
Fontes
Legisladoras:
Qur'an, Sunnah, Ijma as Sahabas (consenso dos companheiros do profeta) e Qiyas (casos
análogos). Há também a Maslaha al Mursalah (benefícios) ou Ijma al
Ummah (consenso da Ummah), os quais não são amplamente aceitos nas
diversas escolas, o que veremos posteriormente.
Língua árabe:
Compreender
a estruturação gramatical e léxica da língua árabe para compreender
o correto significado de uma Ayah e de um Hadith, para fazer a correta
interpretação. Quando o texto do Qur'an e da Sunnah não podem ser bem
deduzidos (compreendidos), não se pode extrair regras deles. A estrutura linguística do Qur'an e da Sunnah varia de estilo a estilo.
Alguns exemplos
destes estilos são: Thanniy (texto especulativo), Qatai (texto
definitivo), Amm (texto geral), Khass (texto específico), Haqiqi (texto
literal), Hajazzi (texto metafórico). A diferenciação destes estilos
é importante no Usul al Fiqh.
Interpretando
o Texto do Qur'an e da Sunnah:
A
menos que os textos do Qur'an e da Sunnah sejam corretamente
compreendidos, nenhuma regra pode ser deduzida deles.
Outro aspecto essencial envolvendo a interpretação do texto do Qur'an
e da Sunnah gira em torna da ab-rogação de suas regras. O estudo da
ab-rogação
de regras envolve sua relação com outras Ayahs ou Ahadith e como
reconciliar a diferença entre ambos.
Alguns muçulmanos não encontram utilização para o Usul al Fiqh,
achando que se pode ir diretamente no texto do Qur'an e da Sunnah. Isso
demonstra claramente a ignorância em entender o Islã. É impossível
se obter as leis sem os devidos materiais necessários. Essas
ferramentas nos auxiliam a entender os textos do Qur'an e da Sunnah. Sem
entender o texto perfeitamente, é impossível a extração das leis.
Um exemplo disso é quando não se tem o pleno domínio da gramática árabe
para interpretação das fontes legisladoras, não se pode dizer se um
determinado ato é haram (pecado) ou makruh (não recomendado). No
entanto, o Usul Al Fiqh é o pré requisito definitivo para se achar as
regras.
Se uma regra é baseada no Usul al Fiqh, uma variação no Usul al Fiqh
pode resultar em diferentes regras. Esta é a razão da possibilidade de existência de mais de uma regra no mesmo tópico.
O produto final do Usul al Fiqh é a Sharia (ou Fiqh, que são sinônimos).
A diferenciação entre Usul al Fiqh e Shariah, é que a última é o
conjunto de regras relacionado a cada ação, e o primeiro é a
metodologia utilizada para extração das regras das fontes.
Shariah
O significado linguístico da palavra Shariah é uma fonte inesgotável de
água, na qual as pessoas satisfazem sua sede. O significado então
de Shariah é que as leis islâmicas são efetivamente um guia para a vida
correta. Como a água é um fundamento básico da vida, e as leis
islâmicas são um código essencial para a vida humana.
A Shariah é composta pelas leis derivadas das fontes legisladoras do Islã. Estas leis não são
limitadas somente para áreas sobre o divórcio
e casamento, como é comum pensar. As leis islâmicas cobrem todas as ações
efetuadas por um indivíduo ou sociedade. O termo shariah é um sinônimo
de Fiqh.
(*
Ver nota no final do texto).
Hukm
Sharii
O texto do Qur'an e da Sunnah englobam diversos tópicos como: história
de sociedades anteriores, o dia de julgamento, etc... No entanto, o
texto que trata especificamente das ações (o que fazer e o que não
fazer), é chamado de Hukm Sharii. O termo em árabe Hukm Sharii refere-se
ao legislador (das ações e dos atos). O Islã explicita todas as ações
permitidas ou não. Todos nossos atos devem ser guiados pelo Hukm Sharii.
Allah (SWT) diz:
"Em verdade, revelamos-te o Livro
corroborante e preservador dos anteriores. Julga-os, pois, conforme o
que Deus revelou e não sigas os seus caprichos, desviando-te da verdade
que te chegou."
(Al Maidah: 47)
"Não é dado ao crente, nem à crente, agir
conforme seu arbítrio, quando Deus e Seu Mensageiro é que decidem o
assunto. Sabei que quem desobedecer a Deus e ao Seu Mensageiro
desviar-se-á evidentemente." (Al Ahzab: 30)
Tipos de Hukm
Sharii
Muitos muçulmanos são precipitados em concluir que algo é Haram ou
Fard após uma leitura de uma Ayah ou Hadith. Nem todos as diretivas nas
fontes legislativas são Fard ou Haram. As regras que são usadas para
diferenciar os tipos de Hukm Sharii são novamente relacionadas ao Usul al Fiqh.
Na realidade, o Hukm Sharii pode ser entendido de 5 formas:
Fard (Obrigatório)
Se o pedido para executar uma ação é decisivo (Talab Jazim), então é Fard ou Wajib (ambos tem o mesmo significado). Uma pessoa que cumpre
algo Fard será recompensada, e se desobedece, é punida.
Exemplo: Executando uma oração, pagando o Zakat, participando na
Jihad, muçulmanas usando o Hijab, etc.
Haram (Proibido)
Se uma instrução é conectada com um comando decisivo de reprovação, então a ação
é considerada Haram ou Mahthur. Se um Haram é cometido,
a pessoa será recompensada, se for evitado, a pessoa será recompensada.
Exemplos: Jogos de Azar, promover nacionalismo ou democracia, etc.
Mandub, Sunnah ou Nafilah (Recomendado)
Se uma instrução de uma ação não é firme, então é considerado Mandub. A pessoa que
a executar, sera recompensada; no entanto, se uma
pessoa não a cumpre, não será punida.
Exemplo: Jejuar segundas e terçaas.
Makruh (Não Recomendado)
Se uma instrução de não comprimento não é firme, então é
considerado makruh. Quem se abstém de tal ação é recompensado, e quem a
executa não é punido.
Exemplo: Executar um Salat entre Farj e o nascer do Sol, comer cebola
antes de ir à mesquita para orar, etc.
Mubah (Permissível)
Se a escolha de executar ou não uma ação é decidida por uma pessoa,
esta ação é chamada Mubah. Não há punição nem recompensa para as ações que se encaixam nesta categoria.
Exemplos: Casar com quatro esposas, etc.
As
Aplicações da Shariah
A Sharia não está restrita a áreas que cobrem o
divórcio ou
casamento. Ela cobre a relação entre o homem e Allah (SWT), o homem e
ele mesmo e a relação homem-homem. Entretanto, para a aplicação de
qualquer regra é necessário o conhecimento da situaçã, da regra e
do método.
Como exemplo, um princípio geral no Isla que a mão de um ladrão
deve ser cortada. No entanto, se uma pessoa rouba comida enquanto
faminto, este princípio geral não � aplicado nesta situação
particular. Consequentemente, o conhecimento de como e onde aplicar as
leis são obrigatórios.
O uso incorreto da Sharia é aplicar o sistema de leis islâmicas
relacionados a Hudud (punição) enquanto ao mesmo tempo é aplicado um
sistema econômico como o capitalismo. As leis islâmicas foram
explicitadas para proteger a sociedade a qual o Islã está sendo
aplicado.
Como as leis islâmicas podem ser aplicadas ao mesmo tempo em que o
capitalismo se baseia na exploração das massas? Como o sistema de punição
da lei islâmica pode ser justificado quando se corta a mão de um ladrão,
se este ladrão está na opressão do capitalismo?
A punição de se cortar a mão de um ladrão é baseada na proteção
de uma sociedade na qual o sistema islâmico está implantado, um sistema
no qual o estado atende todas as necessidades básicas de um
indivíduo.
A Sharia não deve ser vista como um obstáculo nas nossas vidas, mas
sim como uma graça de Allah (SWT). Estas leis devem fazer parte da
ideologia (um método compreensivo de vida) revelada pelo criador. Esta
ideologia, o Islã, requer a convicção que só o Islã é a solução
de nossos problemas, e vem de Allah (SWT), Que nos criou e sabe o que
é melhor para nossas vidas.
Não há nenhuma razao para o não obedecimento de qualquer regra de
Allah (SWT). Como mencionado anteriormente, as leis islâmicas são
justas, porque foram feitas por Deus, em contraste com as leis
opressivas feitas pelos homens. Consequentemente, devemos demonstrar
orgulho, alegria e gratidão a Allah (SWT) Que nos mostrou o único
caminho correto para obedecê-Lo.
O Islã é completo e, consequentemente, uma unidade integrada, que não
pode ser implementada parcialmente. Por exemplo, a implementação das
regras islâmicas relacionadas à economia, necessitam da implementação
das regras do Zakat, Nafaqah e Al-Jizyah, que é a real implementação
do sistema econômico.
A realização do sistema econômico requer a implementação da Ibadaah, sistema social, regras relacionadas ao Povo do Livro, política
para não-muçulmanos e regras relacionadas ao califado como um todo. O
sistema islâmico é interconectado e uma parte ajuda à implementação
de outra parte.
A implementação parcial do Islã resulta em caos,
o que é evidente hoje. Por exemplo, Allah (SWT), permitiu o divórcio
para solucionar um problema. Entretanto, o divórcio hoje, por si só,
é um problema maior que uma solução.
Daleel
Linguisticamente, Daleel significa prova, indicação ou evidência.
Como um termo, Daleel significa uma evidência para um pensamento,
conceito ou norma. Qualquer lei ou regra deve ter um Daleel, que pode
ser do Qur'an, Sunnah ou outra forte que o Qur'an e a Sunnah nos
direcionou para adotar. Estas fontes serão discutidas mais adiante neste
livro. Qualquer regra do texto, seja ele o Qur'an ou Sunnah, é
considerado um Daleel.
Por exemplo, o Qur'an normatiza:
"E que surja de vós uma nação que
recomende o bem, dite a retidão e proíba o ilícito. Esta será (uma
nação) bem aventurada. "
(Al-Imran:104)
Esta Ayah é considerada um Daleel para a obrigação de se estabelecer
um Hizb (partido ou grupo), chamando para o Islã e mostrando o que é Maruf
(bom) e o que é Munkar (ruim).
Um exemplo de Daleel na Sunnah é a proibição de chamar para o
nacionalismo: O Profeta (SAW) disse a respeito de todos os Asabiyah (nacionalismo,
racismo, tribalismo): "Deixe isso, isto é incorreto." (Bukhari
e Muslim)
Estrutura do
Daleel
Como mencionado anteriormente, um Daleel é uma evidência para uma opinião, conceito, regra ou pensamento do Islã. Existem dois aspectos
relacionados com qualquer Daleel: Riwayah (informação) e Dalalah (entendimento).
O Riwayah é como a informação reportada chegou até nós, isto inclui
o número e a integridade dos informantes.
O Dalalah é relacionado com o entendimento do texto no Daleel.
Existem
dois termos utilizados em conexão com Riwayah e Dalalah, que são Qatai
e Thanniy.
Qatai é definido como conclusivo ou decisivo, enquanto Thanniy é o
oposto de Qatai e significa não-definido ou não-conclusivo.
Riwayah
Qualquer Ayah do Qur'an ou Hadith Mutawatir é considerado Qatai (conclusivo)
em sua Riwayah (informação).
O Qatai (conclusão) no Riwaya (informação), implica que a evidência é autêntica sem qualquer sombra de dúvida. Esta autenticidade
é
estabelecida baseada na metodologia de transmissão.
Esta metodologia pela qual o Qur'an nos foi transmitido exclui
qualquer possibilidade de fabricação. A informação foi transmitida de
geração em geração, exatamente da mesma maneira. E é impossível
para uma geração inteira fabricar, apagar ou adicionar conteúdos ao Qur'an. E também
é inconcebível acreditar que todos os indivíduos
tenham mudado da mesma maneira e mesma forma o conteúdo do Qur'an. Toda
a sua geração recita o Qur'an da mesma maneira e com o mesmo conteúdo,
provando assim a autenticidade de seu conteúdo.
Hadith Mutawatir são aqueles que não foram transmitidos de geração em geração, e várias pessoas têm conhecimento de seu conteúdo.
Devido a várias pessoas informarem o Daleel e sua diversidade de
localização, eles estabelecem confiança e convicção, e é inconcebível
que este Daleel esteja errado.
Qualquer outra informação que não o Qur'an ou Hadith Mutawatir, como
os Hadith Ahad, são considerados Thanniy (duvidoso), indicando uma
possibilidade deste Daleel conter algum erro.
Dalalah
O segundo aspecto do Daleel é o Dalalah (entendimento). Se um texto do
Qur'an, Hadith Mutawatir ou Hadith Ahad é claro, específico e tem
somente uma interpretação, ele é considerado Qatai. Um texto de um
Qatai Daleel tem somente um significado e não pode ser aberto a outra
interpretação. Se o texto pode ser aberto para mais de uma interpretação,
ele é considerado Thanniy, desde que as interpretações sejam feitas em
língua árabe, porque qualquer interpretação deve ser feita por meio da
língua árabe.
A1. Exemplo do Qur'an com um significado Qatai (conclusivo):
"De tudo quanto deixarem as vossas esposas,
corresponder-vos-á a metade, desde que elas não tenham prole."
(Al-Nisa: 12)
"E aqueles que difamarem as mulheres castas,
sem apresentarem quatro testemunhas, infligi-lhes oitenta vergastadas e
nunca mais aceiteis seus testemunhos, porque são depravados."
(An-Nur: 4)
O aspecto quantitativo destas regras, nomeadamente quatro e oitenta, são
claros, e portanto não estão abertos a nenhuma outra interpretação.
A2. Exemplo de um Hadith Mutawatir com significado
Qatai (conclusivo):
"Aquele me mentir sobre mim (Profeta Muhammad
(SAWS)) intencionalmente, será colocado no fogo do inferno."
Este Mutawatir Hadith é muito claro na sua explicação, ou seja, no
entendimento do texto; qualquer um que mentir sobre o Profeta (SAWS)
intencionalmente, irá para o fogo do inferno.
A3. Exemplo de um Hadith Ahad com significado
Qatai (conclusivo):
É informado por um Hadith não-Mutawatir que o Profeta (SAWS) jejuou 6
dias em Shawwal. Os significados conclusivos deste Hadith são os
seguintes:
Permissividade de se jejuar nos 6 primeiros dias de Shawwal.
Exceto no primeiro dia, porque é dia de Eid, e é Haram jejuar no Eid.
B1 - Exemplo de uma Ayah do Qur'an com um
significado Thanniy (não definido):
Na Surah al-Maid'a Ayah 6, Allah (SWT) diz que se você tocar uma mulher,
quebra a ablução (wudhu). A palavra "la mastum" pode ser
interpretada com dois significados: toque ou intercurso sexual.
Então, esta Ayah tem uma Thanniy Dalalah, ou seja, pode significar que
tocar uma mulher anula o Wudhu ou o contato sexual com uma mulher anula o
Wudhu.
B2 - Exemplo de um Hadith Mutawatir com significado
Thanniy (não definido):
É informado que o Profeta (SAWS) geralmente saáa de sua casa de uma
maneira específica. No entanto, quando o Sahabah (RA) disse que o Profeta
(SAWS) a efetuou de uma maneira diferente, ele aprovou ambas as ações.
Note que este incidente é Mutawatir, mostra que as regras de se deixar o
lar são muitas.
B3 - Exemplo de um Hadith Ahad com um significado
Thanniy (não definido):
É informado por um Hadith não-Mutawatir que o Profeta (SAWS) jejuou 6
dias em Shawwal. Os significados não conclusivos deste Hadith são:
Os 6 dias de jejum são consecutivos ou não?
Jejuava em que parte do mês de Shawwal?
Não obstante, nós discutimos os aspectos Qatai e Thanniy de Riwayah e
Dalalah separadamente. No entanto, o método para se determinar se o Daleel (no Riwayah e no Dalalah)
é Qatai ou Thanniy é o seguinte:
Qatai Riwayah + Qatai Dalalah = Qatai Daleel
Informação decisiva + Entendimento decisivo = prova decisiva
Thanniy Riwayah + Qatai Dalalah = Thanniy Daleel
Informação especulativa + Entendimento decisivo = prova especulativa
Thanniy Riwayah + Thanniy Dalalah = Thanniy Daleel
Informação especulativa + Entendimento especulativo = prova especulativa
Qatai Riwayah + Thanniy Dalalah = Thanniy Daleel
Informação decisiva + Entendimento especulativo = prova especulativa
Qualquer ideia, pensamento ou conceito relacionado à Fé deve ser
baseado em um Qatai Daleel. Por exemplo, o conceito que anjos existem é
baseado em um Qatai Daleel, não em Thanniy. Então, na Usul Al Fiqh, para
estabelecer uma fonte para extração de leis, a fonte mais utilizada é o Qatai Daleel (prova conclusiva).
Como um exemplo, para considerarmos Ijma as Sahabah como uma fonte de
regras, o Daleel para provar a autoridade, o Ijma as Sahabah deve ser
Qatai no Riwayah e no Dalalah, já que a regra pode ser Qatai (confirmada)
ou Thanniy Daleel (prova especulativa).
Examinando o texto do Qur'an e da Sunnah pode-se ver que é bem
restrito em seu volume. Com seu texto limitado pode gerar regras para
quaisquer problemas, nos afetando em qualquer lugar e a qualquer tempo até
o dia do juízo final.
É um milagre de Allah (SWT) que o texto do Qur'an e da Sunnah tenham a
habilidade de expressar numerosas regras em uma simples Ayah e Hadith, e
essa habilidade de compreensão vinda de um simples texto não pode ser
encontrada em qualquer outro texto legal do mundo!
O desafio é para os muçulmanos de qualquer geração tentar entender o
texto e aplicá-los às suas vidas, já que o Qur'an e a Sunnah são
relevantes em qualquer tempo e lugar.
Além do ponto mencionado acima, temos que entender as regras e diretrizes
relacionadas à compreensão e extração de leis do Qur'an e
da Sunnah. Ninguém, a não ser que esteja a par destas regras (língua árabe,
regras para diferenciar um tipo de texto de outro, etc...) pode entender o
texto do Qur'an e Sunnah.
Para entender as constituições feitas pelo homem, um indivíduo tem que
despender muitos anos estudando o texto. Então, como se pode
esperar que um indivíduo que não é familiarizado com o Usul al Fiqh, abra
o Qur'an e a Sunnah e extraia regras deles?
Qur'an
A palavra Qur'an é derivada de Qara'a, que significa leitura, ou recitação.
Entretanto, Qur'an linguisticamente, significa um livro que foi lido ou
recitado.
Como um termo, Qur'an é a palavra miraculosa de Allah (SWT), revelada a
Muhammad (SAWS) em árabe e escrita para nós pelo método Tawatur. A
recitação do Qur'an é considerada um Ib'adah (ato de adoração). O Qur'an
contém
as exatas palavras de Allah (SWT) como foram reveladas ao profeta e como existem hoje.
Significa que ninguém
pode produzir algo similar a ele.
O termo "em árabe" se refere à linguagem do Qur'an, não a um
povo específico, pois o Qur'an foi revelado para todos os povos (árabes
e não árabes). As regras do Qur'an são universais e não são restritas a um
grupo étnico ou a uma área / tempo específicos.
Pelo método Tawatur, entendemos que veio de um grupo ou pessoa incapazes
de mentir, ou conspirar para fabricar uma mentira. O Qur'an nos foi
transmitido por diversas gerações, não por um grupo somente, para seus
sucessores (gerações futuras), até chegar em nossa
geração, sem qualquer intervalo nesta transferência.
Recitar o Qur'an em árabe, sem compreender seu sentido é considerado um Iba'adah. O Qur'an
é diferente dos Hadith, porque estes não podem ser
recitados como um ato de adoração. Entretanto, conhecer o significado do Qur'an e dos Hadith
é considerado um Iba'adah.
Durante o tempo do profeta (SAW), o texto do Qur'an foi preservado na memória
e então inscrito em pedras, madeira e ossos. Inicialmente o Khaleefah (Califa)
Abu Bakr (RA) , compilou o Qur'an logo após a batalha de Yamamah, temendo
a morte dos memorizadores do Qur'an. Zayd bin Thabit (RA), o escriba do
Profeta (SAW), foi o encarregado da compilação do texto.
Durante os tempos do Profeta (SAW), os muçulmanos costumavam recitar o Qur'an
de formas diferentes, o que era feito pelo próprio Profeta (SAW). Quando
os Sahabah (RA), migraram para conquistar terras , os muçulmanos destas áreas recitavam da forma que o Sahabi (RA) recitava.
O Khalifah Uthman (RA), solucionou este problema, e temeroso da corrupção
do Qur'an, assim como os outros livros foram perdidos ou corrompidos, ele
adotou um sistema de recitação e mandou fazer sete cópias. Estas sete cópias
foram mandadas para diferentes áreas; a cópia master foi deixada em
Medina. Todas as outras cópias existentes na época foram destruídas.
O Qur'an foi revelado com suas palavras e significados próprios,
entretanto, a Sunnah foi mostrada e explicada pelo Profeta (SAW), o qual
expressou seu entendimento usando suas próprias palavras. O Qur'an foi
revelado em dois períodos distintos da Dawah do Profeta (SAW), em Mecca e
em Medinah.
Uma Surah é considerada Makki se sua revelação começou em Madinah. A
distinção entre as partes Makki e Madini do Qur'an é baseada nas informações providas pelos Sahabah (RA).
Sunnah
Sunnah, linguisticamente, significa direção ou caminho. Como um termo jurídico, o termo "Sunnah" tem significados diferentes para várias
disciplinas da cultura islâmica.
Para o Ulema de Hadith:
Sunnah se refere
para tudo narrado do Profeta (SAW), seus atos, suas falas, o que foi
explicitamente aprovado por ele, e todas as informações que descrevem
seus atributos físicos e seu caráter.
Para o Ulema de Fiqh:
Sunnah refere-se a categoria do Mandub ou Nafilah. Neste sentido, Sunnah é
usado como sinônimo de Mandub. Por exemplo, orar salat extras ou
jejuar dias extras (que não no Ramadã) é Mandub ou Nafilah.
Para o Ulema de Usul al Fiqh:
Sunnah refere-se à outra fonte da Sharia junto ao Qur'an. Então, a utilização
no Usul al Fiqh, é uma pessoa dizer que jejuar outros dias além do
Ramadã é Sunnah, denotando que esta regra é validada pela Sunnah.
A utilização do termo Sunnah no Usul al Fiqh não deve ser confundida
com o termo Sunnah em Fiqh. No Fiqh, o termo Sunnah é sinônimo de Nafilah ou Mandub, significando um ato recomendado. Já em Usul al Fiqh,
é uma fonte de extração de regras, e estabelece os seguintes tipos de Hukm Sharii:
Fard: Por exemplo, o método de orar é estabelecido na Sunnah e não
no Qur'an. O Qur'an dá a ordem para orar.
Haram: Jejuar no dia do Eid é Haram e é estabelecido na Sunnah.
Mandub / Sunnah: Jejuar nas segundas-feiras é Mandub e é
estabelecido pela Sunnah.
Makruh: Comer cebola antes de ir para a mesquita é Makruh e está
descrito na Sunnah.
Mubah: Geralmente, o Profeta (SAW) bebia água sentado ou parado.
Tipos de
Sunnah
A. Qawli (Verbal): Consiste nos ditos do Profeta (SAW) em qualquer
tópico. Exemplo: "Aquele que mente não é um de nós".
B. Taqiri (Aprovação): Consiste das aprovações do Profeta
(SAW). Se algo foi feito na frente dele (SAW) e ele não aprovou tal coisa,
isto é considerado um taqiri. Por exemplo, o Profeta (SAW), aprovou as
mulheres orarem na mesquita, separadas dos homens, porém no mesmo local.
C. Faili (Ações): Consiste nos hábitos e práticas do Profeta
(SAW), como por exemplo, o modo dele orar e efetuar o Hajj.
Os parágrafos subsequentes, mostram as ações do Profeta (SAW) e seu
impacto legislativo. As ações do Mensageiro (SAW), podem ser divididas
em três partes. A primeira consiste de ações que são naturais
a ele como ser humano, a segunda, as ações que eram específicas dele como
Profeta (SAW), e a terceira e última, ações que carregam impacto
legislativo.
Ações como parte da natureza do Profeta (SAW):
Estas ações incluem como ele parava, sentava, comia ou bebia. Por
exemplo, é informado que quando ele (SAW) andava e queria virar sua cabeça
para outra direção, ele (SAW), virava o corpo inteiro. Este tipo de ação
não tem impacto legislativo, com exceção de certos casos que o Profeta
(SAW) recomendava fazer uma ação particular. Este tipo de ação é
considerada Mandub.
Por exemplo, há um Hadith dizendo a um Sahabi para comer com sua mão
direita, e isso fez com que essa ação saísse da categoria de Mubah (permissível),
para Mandub (recomendado).
Ações específicas para o Profeta (SAW):
Allah (SWT), mandou Seu Mensageiro (SAW) com regras que foram
especificamente para ele. Alguns exemplos destas regras são:
Ele (SWT) ordenou orar o Tahajjud e a Salat Ishraq como Fard para o
Profeta (SAW)
Ele (SWT) permitiu a ele (SAW) continuar seu jejum à noite.
Seus contratos de
casamento não tinham que incluir um dote (Mahr).
Suas
esposas não puderam voltar a se casar (depois de sua morte).
Foi
permitido a ele casar com mais de quatro esposas ao mesmo tempo.
Qualquer um que executar este tipo de ação está pecando, porque estas ações
são exclusivamente para o Profeta (SAW).
Ações do Profeta (SAW) que acarretaram consequências
legislativas:
Os tipos de ações que têm consequências legislativas são de três
tipos:
A ação do Mensageiro de Deus (SAW) que nos dá uma explicação de um
texto.
Se uma explicação foi para uma regra ou texto que era obrigatório, então
a explicação será obrigatória. Se a explicação foi para uma regra Mandub, então
a explicação também será Mandub. Comumente, a explicação
tem o mesmo status da regra. Alguns exemplos serão fornecidos para melhorar
esta explicação.
O Qur'an obriga a execução do Salat. Todas as explicações de como efetuar a oração
pelo mensageiro de Deus (SAW) também são uma obrigação. Por exemplo, ele
(SAW), recitava a Surah Al Fatiha em pé, e sempre recitava esta surah
durante as rakah. Exceto para aqueles que têm dificuldades físicas,
recitar a Al Fatihah deve ser feito em pé em todas as orações obrigatórias.
Então, desde que qualquer ordem tenha sido endereçada a Muhammad (SAW),
esta é endereçada a todos os muçulmanos. O Qur'an nos admoesta que quem
não cumprir estas regras são kafir, Zhalim ou Fasiq. Quando estudamos a
Seerah, encontramos uma abundância de detalhes relacionados à
regulamentação
pelo Islã. Por exemplo, o Mensageiro (SAW), disse:
"Aos filhos de Israel foram enviados Profetas.
Toda vez que um profeta morria ou era assassinado, outro
profeta vinha para sucedê-lo. No entanto, não haverá outro profeta depois de mim, e haverão Khulafa, e eles serão muitos. Então o Sahabah
perguntou: 'O que devemos fazer?' Ele disse: Dêem poder ao primeiro e
a quem o suceder, e dêem os direitos a Deus (SWT), a Quem eles prestarão
contas de todos os seus atos." (Muslim).
A Seerah também define os pilares de regulamentação estatal - ela é feita
pelo Estado Maior, Delegados e Representações Executivas do Estado
Maior, Governantes, Governantes das Províncias, Amir da Jihad, Juízes do
Distrito, Assembleia Consultiva da Ummah e Conselho Administrativo,
Desde que os aspectos estejam detalhados e explicados pelas regras do
Islã, esta explicação vira regra para nós, e é uma obrigação implementá-la. Esta explicação refuta qualquer pedido
vindo de qualquer
pessoa para a utilização de método democrático, parlamentarista, republicano, monárquico
ou ditatorial de regime, para utilizar as metodologias do Islã.
Allah (SWT) ordenou seu Mensageiro (SAW) efetuar a Dawah Islâmica. Allah (SWT) disse:
"Dize: Esta é a minha senda. Apregoo a Deus
com lucidez, tanto eu quanto aqueles que me seguem." (Yusuf:
108)
e Allah (SWT), também disse:
"Convoca (os humanos) à senda do teu Senhor
com sabedoria e uma bela exortação; dialoga com eles de maneira
benevolente, porque teu Senhor é o mais conhecedor de quem se desvia da
Sua senda, assim como é o mais conhecedor dos encaminhados". (An-Nahl
: 125)
Estas Ayahs nos obrigam a executar a Dawah Islâmica da maneira que o
Profeta (SAW) a fez. O Mensageiro de Deus (SAW), executou a Dawah como
parte de um grupo. Ele (SAW) nunca adotou o lema "se não pode contra
eles, junte-se a eles."
O Mensageiro (SAW) e seus companheiros (RA), confrontaram a sociedade de
Meca, atacando sua Aqeedah, leis, conceitos e regras, sempre mostrando
que o Islã é a única alternativa.
Este grupo nunca utilizou tática material como atos terroristas, ações
militares, ou treinamento esportivo. Sua estratégia envolvia estratégia política
contra os líderes da sociedade de Meca como Abu Jahl, Abu Lahab e
a estratégia ideológica endereçada aos praticantes de mentira, aos que
queimavam as filhas vivas, rezavam para ídolos, etc. Consequentemente,
utilizar estes protótipos para a Dawah atual não é viável.
As ações do Profeta (SAW), que entram na categoria de Mandub ou Nafilah.
Exemplo destes tipos de ações são jejuar 6 dias durante o mês de Shawwal, efetuando Dhikr especiais nestas ocasiões e efetuando as Sunnah
Salat.
Segundo o Uswah (exemplo) do Profeta (SAWS), entende-se que devemos executar a ação
do mesmo modo que foi executada pelo profeta (SAW). Se ele (SAW), efetuou uma
ação como Mandub, esta ação é Mandub, se ele (SAW), executou uma ação Fard, então,
esta ação também é Fard.
Não podemos trocar nenhuma ação que ele (SAW) fez como Fard para
Sunnah, e também nenhuma Sunnah para Fard.
As ações do Profeta (SAW) que entram na categoria de Mubah.
Se as ações são permissíveis, o resultado não é nem a satisfação, nem a
insatisfação de Allah (SWT).
Um exemplo desta ação é o tempo de duração de dez anos para o tratado
de Haybiah. Os dez anos não são fixos ou limitados para tratados
assinados pelo Khaleefah. Consequentemente, é Mubah para o Khaleefah
assinar um tratado por cinco ou quinze anos.
Termos Básicos
nos Hadith
Sanad: Uma cadeia de informantes que levam ao Profeta (SAW).
Tabaqah: Uma classe de informantes na mesma geração, por exemplo Sahabah (RA).
Marfu': Um Hadith cuja Sanad leva ao Profeta (SAW)
Mawquf: Um Hadith que a Sanad termina com um Sahabi
Mursal: Um Hadith que leva ao Profeta (SAW), mas sem o nome do
Sahabi que o reportou.
Qudsi: Um Hadith que a Sanad leva ao Profeta (SAW), e o Profeta
(SAW) o reporta de Allah (SWT).
A informação de um Hadith Qudsi pode começar de duas maneiras:
O Profeta (SAW) disse informado por Allah (SWT) ...
Allah (SWT) disse como informado pelo Seu Mensageiro (SAW) ....
Tipos
de Hadith
Existem diferentes tipos de Hadith, devido ao método de transmissão,
número de informantes em cada classe, e a autenticidade do Hadith.
Matawatir / Tawatur: um Daleel transmitido por um número
indefinido de pessoas. Devido ao grande de número de pessoas transmitindo
o Daleel e sua diversidade de residências, confiabilidade e convicção, é inconcebível que este Daleel tenha sido fabricado (manipulado).
O número mínimo requereido de informantes para se classificar
um Daleel como Matawatir é geralmente cinco. Entretanto, algumas escolas
têm critérios mais restritivos. O caráter das pessoas que reportam Mutawatir Ahadith tem que ser nobre.
Ahad: Riwayah Ahad é um número menor que no Mutawatir
Mashoor:
Um
Hadith informado por pelo menos por três indivíduos em todas as classes (Sahabah,
Tabi'een, etc...).
Aziz: Um
Hadith reportado pelo menos por dois indivíduos em cada classe.
Gharib: Um Hadith informado por somente um indivíduo em uma ou
mais classes.
Sahih:
Um
Hadith narrado por um Adl (pessoa não conhecida por má conduta) e por um Dabeth (pessoa que mantém cópia
fiel na informação), de pessoa a
pessoa de qualidades similares, até o final da cadeia de informação. A
informação deve também excluir qualquer Shuthuth (desacordo com outros
informantes confiáveis).
Hasan:
Tem duas definições:
Um Hadith que vai de encontro aos requerimentos do Sahih para um degrau
menor.
Um Hadith que é aceite pela maioria do Fuqaha (pessoas aptas).
Da'if: Um
Hadith que nao atende os requisitos necessários pelo Sahih ou pelo
Hasan Hadith. Pode ser um dos seguintes:
Mualaq: Um Hadith que falta um ou mais informante no início do Isnad (Cadeia de Informantes), no meio ou no fim.
Mu'addal: Um Hadith que não tem dois ou mais informantes
consecutivos.
Munqati: Um Hadith que teve uma classe de informantes interrompida.
Ash-Shaath: Um Hadith no qual um informante confiável informa algo
que entra em desacordo com outro informante confiável.
Muallal: Um Hadith que o Sanad parece ser correto, mas devido a
alguns motivos descobertos pelos estudiosos, foi desacreditado.
Munkar: Um
Hadith narrado por relatores não confiáveis, que entram em choque com
informações fornecidas por relatores confiáveis.
Mawdu: Um Hadith fabricado (falso).
Reconciliando informações divergentes entre dois ou mais Ahadith
Algumas pessoas, concluíram que, em, às vezes, aparecem conflitos entre Ahadith (plural de Hadith).
Como resultado, eles chegaram a conclusão que ambos (os Ahadith em
conflito), devem ser rejeitados e outras pessoas declararam que toda a
Sunnah deve ser rejeitada (evitada). Ambas dessas interpretações e
conclusões estão completamente erradas e são absurdas. O que deve ser
feito então no caso de aparecerem conflitos entre dois Ahadith?
Em primeiro lugar, não deve haver conflitos entre os ditos e/ou ações do
Profeta (SAW), excetos nos casos de ab-rogação (anular uma ordem dada). O
Mensageiro (SAW) disse:
"Proibi-vos a visita a túmulos, porém agora,
podem visitá-los." (Muslim, Abu Daoub, An-Nisai e Al-Hakim)
Neste Hadith, nota-se que o Profeta (SAW) proibiu os muçulmanos de
visitar túmulos, no entanto, esta regra foi ab-rogada pela última frase do
Hadith.
A rejeição da Sunnah não pode ser considerada, devido as casos que
ab-rogação, pois o conceito de ab-rogação é parte do Islã. Contudo,
nos casos que ocorrem ab-rogação (anulação de ordens anteriores) no Qur'an, a Ayah não
é ab-rogada, e somente a regra que é extraída da Ayah é anulada. Consequentemente não
se pode anular uma Ayah do
Qur'an porque ela foi ab-rogada.
Em segundo lugar, algumas vezes, os Sahabah (RA)
relataram diferenças entre as ações feitas pelo Profeta (SAW). Por exemplo, existem
relatos que ele (SAW), orava com suas mãos na cintura, e outros que ele
fazia suas orações com a mão no meio do tórax. Isto
não indica um conflito, e sim ilustra que ele (SAW) fazia de ambas as
formas, e que isso é permissível durante as orações. Em terceiro lugar, se
é observado algum conflito entre a fala e a ação do Profeta (SAW), então
esta ação era especificamente para ele (SAW), enquanto o texto (dito) é específico para os muçulmanos. Um exemplo disso,
é que ele (SAW),
jejuava continuamente durante dias e noites, enquanto ele (SAW) proibiu os Sahabas (RA) desta prática.
Exemplo de
alguns Ahadith que parecem entrar em conflito:
Sobre pedir ajuda a nao-muçulmanos, encontra-se o seguinte Ahadith:
Em uma situação, Aisha (RA), reportou que quando o Profeta (SAW) estava
em seu caminho para a batalha de Badr, um homem conhecido pela sua coragem
aproximou-se dele em um local chamado Harratul Wabra. Os Sahabah
(RA) ficaram muito contentes em vê-lo. O homem viu o Profeta
(SAW) e disse "Eu vim para lutar com vocês e compartilhar sua
conquista na guerra." Então, o Profeta (SAW), perguntou: "Você
acredita em Allah (SWT) e em Seu Mensageiro (SAW)?" O homem disse:
"Não". O Profeta (SAW) disse a ele para retornar, pois os muçulmanos
não aceitam ajuda de Mushriks. O Profeta (SAW) prosseguiu o seu caminho
para Badr, até alcançar Al-Shajara. O homem veio novamente e o Profeta (SAW)
repetiu o que havia dito anteriormente. Como resultado, o homem retornou.
O homem encontrou com o Profeta (SAW) novamente em Baida'ah. Então o
Profeta (SAW) perguntou novamente: "Você acredita em Allah (SWT) e
em Seu Mensageiro (SAW)." Então o homem disse "Sim", então
o Profeta lhe disse para se apressar para a luta. (Muslim & Ahmad).
Em outra ocasião, foi reportado que o Profeta (SAW) estava em seu
caminho para a batalha de Uhud, até alcançar Thanniyatul Wadaa. Lá
ele (SAW) encontrou um regimento e perguntou: "Quem são eles?" Os Sahabah (RA) disseram-lhe que eram de Banu Qaynuqaa, a facção de Abdullah Bin Salaam. Então o Profeta (SAW) perguntou se eles se tornariam muçulmanos. Eles recusaram a oferta. Como resultado, o Profeta (SAW),
ordenou que eles saíssem dizendo: "Não aceitamos ajuda de Mushriks" Então eles se tornaram muçulmanos. (Al Baihaqi)
Em outras situações o Profeta (SAW) pediu ajuda a um indivíduo judeu de Khaybar e até permitiu a um Mushrik lutar com ele (SAW). Este Ahadith
foi usado para justificar a presença do exército americano na Arábia
Saudita durante a guerra do Golfo.
Entretanto, eles usaram este Ahadith de forma errada. Pela interpretação
de Ahadith, podemos observar que o Mensageiro de Deus (SAW) permitiu algumas
vezes que não-muçulmanos lutassem com ele como indivíduos.
Entretanto, ele
(SAW), recusava a ajuda de grupos ou de instituições não muçulmanos
que estivessem sob sua própria bandeira. Se um grupo luta sobre a
bandeira de um não-muçulmano, como a bandeira americana por exemplo,
esta ajuda não pode ser aceita por muçulmanos.
Muammar Qaddafi explorou a ideia de contradição no Hadith para rejeitar
toda a Sunnah. Ele alega que Ali Bin Talib (RA) disse que o Mensageiro
(SAW) disse que ele (Ali)(RA) seria um dos que estariam no Paraíso.
Ele então utilizou outro Hadith que diz que se dois muçulmanos lutarem
ente si, ambos irão para o inferno. Como Ali (RA) enfrentou Muawiyyah em batalha, Qaddafi
alega que se este Hadith se aplica a Ali
(RA), contradiz as coisas que o Profeta (SAW) disse, como, por exemplo,
que Ali (RA) iria para o Paraíso. Baseado nesta contradição, Qaddafi
rejeitou toda a Sunnah.
De fato, Qaddafi utilizou este Hadith fora do contexto. O segundo Hadith
está explicando sobre dois grupos lutando por Kufr (descrença)
ou Fitnah, como lutar por nacionalismo, e Ali (RA) estava lutando pelo
Islã. O Qur'an diz-nos que se dois grupos estão lutando, devemos fazer a paz
entre eles, e se um grupo continuar a avançar, todos os grupos podem ir
contra ele.
Ali (RA) era o legítimo Khaleefah e Muawiyyah (RA) se
rebelou. Ali (RA) inicialmente negociou com Muawiyyah (RA) e então
lutou contra ele para deter a rebelião. Ali (RA) estava agindo de acordo
com o Hukm Sharii, e isto não pode ser visto como um ato que colocaria Ali
(RA) no fogo do Inferno.
Consequentemente, não existe nenhuma contradição em nenhum dos dois Ahadith. Não existe contradição ou conflito entre dois Hadith, exceto
em casos de ab-rogação, na qual a regra do último Hadith prevalece.
(*)
NOTA: O conceito de que Fiqh e Shariah são sinônimos não
é unânime entre os estudiosos muçulmanos. No seu livro "Evolution
of Fiqh" o Dr. Bilal Philips define:
1 - Shariah é o
corpo das leis reveladas encontradas no Qur'an e na Sunnah, enquanto Fiqh
é o corpo de leis deduzidas da Shariah para cobrir situações
específicas não diretamente tratadas nas leis da Shariah.
2 - A Shariah é
fixa e imutável, enquanto a Fiqh muda de acordo com as circunstâncias sob
as quais ela é aplicada.
3 - As leis da
Shariah são, em sua maioria, gerais: elas determinam princípios básicos. Em contraste, as leis de Fiqh tendem a ser específicas: demonstram como os princípios
básicos da Shariah devem ser aplicados em
determinadas circunstâncias.
"Evolution of
Fiqh" - Dr. Bilal Philips, publicado em 1988 pela International
Islamic Publishing House, pág.2.
Texto:
Versão ligeiramente editada dos capítulos 1, 2, 3 e 4 do trabalho "Studies
in Usul Ul Fiqh" de
Iyad
Hilal,
disponível na íntegra em inglês nos endereços
http://www-personal.umd.umich.edu/~etarmoom/
ou
http://www.shu.ac.uk/students/union/socs/Islamic/usul.htm
Tradução
livre: Matheus C. Carvalho. Revisão
geral do texto e nota: Maria Moreira.
Informações
mais aprofundadas sobre o tema podem ser encontradas no livro "USUL
AL FIQH AL ISLAMI
- SOURCE
METHODOLOGY IN ISLAMIC JURISPRUDENCE"
disponível
gratuitamente online nos endereços:
http://www.witness-pioneer.org/vil/Default.htm
e
http://www.usc.edu/dept/MSA/law/alalwani_usulalfiqh/ch1.html
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