A idéia geral sobre a forma como nossas sociedades devem ser islamizadas é de que deve surgir um homem forte, com um grande bastão, que deve forçar as pessoas a obedecer as injunções da Shari'ah. As injunções que vêm à mente das pessoas geralmente são aquelas que proíbem beber ou prescrevem determinadas punições para o roubo, o adultério, etc..
É por causa desta compreensão que nós às vezes damos boas-vindas a
ditadores, especialmente quando estes ditadores sabem usar o Islã. Mas tal
compreensão da islamização não tem nada a ver com o Islã autêntico. Porque
de outra forma Deus teria escolhido o profeta do Islã entre os reis ou
generais militares do mundo, o que Ele evidentemente não fez. Escolheu-o, ao contrário, entre os
mais pobres e fracos da terra - um órfão destituído de uma nação que já
era uma das mais pobres no mundo. Mesmo após ter escolhido Seu profeta, Deus não lhe deu nenhuma potência
mundialmente irresistível para impor Sua lei.
De fato, durante a maior parte da vida do profeta, Deus manteve o poder nas mãos
de seus inimigos, que o perseguiram assim como aos seus seguidores e os
mantiveram sob pressão militar através de um exército numericamente maior. Deus finalmente deu ao profeta o poder político, mas quase imediatamente depois
que este poder foi dado, Deus o levou deste mundo.
Deus não enviou o profeta com um bastão mas com conhecimento, sabedoria e um
livro revelado. Com isto ele procurou mudar os corações e as mentes das
pessoas.
Apelou à sua razão e ao seu senso de certo e errado, e então deixou-as livre para decidir.
Disse a eles: " Não há nenhuma compulsão na religião.
A verdade se destaca do erro…" (2: 256)
Usou às vezes linguagem áspera e de censura,
e às vezes palavras doces. E às vezes desafiou para um debate: "
Traga sua evidência, se você estiver dizendo a verdade."
Mas todo este tempo seu objetivo era alcançar os corações e as mentes das
pessoas.
Depois do profeta, o trabalho de islamização deve ser feito pelos ulamas, não
pelos governantes. A menos que, naturalmente, os governantes estejam entre os
ulamas.
Existem dois tipos de ulama: ulama haqq e ulama batil.
Ulama
haqq são aqueles que por causa da fé em seus corações fizeram um trato com
seu Senhor, de acordo com as seguintes palavras de Deus:
" Deus comprou dos crentes suas vidas e suas possessões
em retorno pelo Paraíso."
(9:
111)
Porque abriram mão do apego à vida deste mundo, não temem ninguém exceto Allah e falam contra erros sérios que encontram em torno de si. Tais ulamas surgem entre todos os muçulmanos e entre ambas as denominações muçulmanas, xiitas e sunitas.
Os Ulama batil, por outro lado, estão ligados à vida deste mundo.
Declaram uma parte da verdade corânica enquanto distorcem ou escondem uma outra
parte. São estúpidos quando
tratam de erros básicos em suas sociedades, mas falam em voz alta quando tratam
de diferenças sem importância entre as denominações islâmicas ou de temas
superficiais. Estão frequentemente na folha de pagamento dos governantes de
seus países.
O trabalho de islamização começa com o ‘balagh’, a declaração da
verdade essencial. De fato, de certo modo o ‘balagh’ é todo o trabalho de islamização.
O Qur'an sagrado fala sobre a missão do profeta: "
O Mensageiro não tem nenhuma obrigação, exceto levar a mensagem."
(5:99). Quando o ‘balagh’ é feito corretamente, isto é, quando os ensinamentos do
Islã são divulgados amplamente, sem subtração ou distorção, certos
desdobramentos ocorrem automaticamente na sociedade e trazem a islamização.
É óbvio, entretanto, que o ‘balagh’ apropriado não pode ocorrer a menos
que exista na sociedade uma atmosfera em que as pessoas são livres para
expressar suas opiniões. Mas tal atmosfera não existe na maioria das
sociedades muçulmanas, que são governadas por reis e ditadores repressivos.
Uma parte importante da islamização é, consequentemente, os ulama haqq
tentarem livrar os países muçulmanos destes governantes, e assim remover as
limitações impostas sobre a
liberdade de expressão.
Texto
do Dr. Ahmad Shafaat publicado pela primeira vez no Al-Ummah em 1985, no
Canadá. Retirado do site islâmico
'Islam
- The Modern Religion', que permite a
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