Mensagem aos Recém-Convertidos

 

Assalamu Alaikum!

 

Se você se converteu ou "reverteu", melhor dizendo, ao Islã recentemente, é provável que esteja passando por uma das fases mais conflitantes de sua vida. Por um lado, deve estar sendo o foco de críticas de toda a sua família e dos amigos. Por outro, deve estar experimentando um momento único de satisfação em seu encontro com Allah e a Verdade do Islã . Se for assim, não se preocupe, acontece com quase todos os recém-convertidos e todos, Alhamdulillah, sobrevivem e você, Insh'Allah, também vai sobreviver a tudo e a todos.

Eu gostaria então de dar alguns conselhos baseados em minha experiência pessoal. Sei que aconselhar alguém é altamente mal visto na sociedade brasileira, parece uma interferência, mas é muito recomendável no Islã desde que não ultrapasse os limites do respeito ao outro.

No início ficamos um tanto perdidos com a quantidade enorme de informações, é tudo novo! Tenha paciência e reconheça suas próprias limitações. Não espere (e nem deixe que os outros esperem isto de você) ser capaz de assimilar e praticar tudo corretamente desde o primeiro minuto. O aprendizado da religião islâmica é um processo contínuo que durará o resto de nossas vidas. Existe sempre algo que se desconhece, não importa o quanto possamos ser considerados eruditos pelos outros. Existe sempre algo novo que pode ser acrescentado ou aperfeiçoado em nossos conhecimentos. Quem acha que sabe tudo no Islã, dá a maior prova de que nada sabe. Portanto, persistência e perseverança serão indispensáveis.

Mas pessoalmente creio que é fundamental que você seja honesto com Deus e com você mesmo. Não use o fato de estar recém-convertido(a) para justificar o não cumprimento de deveres religiosos a partir do momento que você toma conhecimento deles e está dentro de suas possibilidades aplicá-los. Você tem o direito de querer se certificar até que ponto um determinado ensinamento é realmente islâmico ou resultado de traços culturais, mas se está em dúvida não deve simplesmente ignorar o fato, mas ao contrário, deve pesquisar bastante até se certificar de que aquele ensinamento é um dever islâmico e a partir daí se dedicar para cumpri-lo. Todos nós temos limitações e reconhecê-las é prova de sabedoria, mas não se deve criar limitações ou impedimentos onde eles não existem.

Por outro lado, não deixe que o desejo de cumprir fielmente todos os ensinamentos religiosos lhe transforme em um seguidor cego da opinião alheia. Leia muito sobre todos os assuntos possíveis independente de sua opinião pessoal. Mesmo aqueles ensinamentos que são obviamente resultado de influência cultural ou até de interpretação equivocada, devem ser conhecidos. Desta forma você evita cair na armadilha de segui-los, uma vez que conhece em que argumentos se baseiam. Além disso, conhecer estes argumentos é a melhor maneira de combatê-los.

Existem pelo menos dois versículos no Alcorão que se referem à obediência cega aos líderes religiosos:

"Tomaram por senhores seus rabinos e seus monges em vez de Deus..." (Alcorão surata 9:31)

" Ó crentes, em verdade, muitos rabinos e monges fraudam os bens dos demais e desencaminham da senda de Deus." (Alcorão surata 9: 34)

Na tradução para o português foram usadas as palavras rabinos e monges como uma referência específica aos líderes religiosos judaicos e cristãos, já que este era o contexto dos versículos.  Entretanto, segundo Yusuf Ali, tradutor de uma das mais renomadas traduções do Alcorão para a língua inglesa, uma das palavras usadas (a que foi traduzida como "rabinos") pode significar doutores da lei, sacerdotes e homens sábios, em um sentido mais amplo.

Infelizmente o hábito de tomar as palavras de seus líderes religiosos como a expressão absoluta da Verdade Divina, atribuindo a elas caráter de infalibilidade, também é comum entre muitos muçulmanos e não apenas entre os xiitas, onde o conceito de infalibilidade dos imames é parte do entendimento religioso. Este comportamento também se verifica entre os sunitas, apesar de não acreditarem na infalibilidade de seus imames.  Aparentemente os muçulmanos que adotam tal comportamento pensam que estas críticas corânicas se aplicam apenas aos judeus e cristãos. Na verdade elas se aplicam a qualquer um que adote o mesmo comportamento.

 É sua responsabilidade estudar e conhecer o Islã o mais profundamente que puder. Não deixe esta responsabilidade nos ombros de outras pessoas, mesmo que elas queiram assumi-la por você. É seu dever religioso e quanto mais você conhecer o Islã, menos dependerá da opinião alheia para tomar decisões em sua vida. Não significa que você não vá trocar ideias e consultar as pessoas que considera merecedoras de seu respeito e admiração por seu conhecimento religioso, pelo contrário, este é o princípio de "shura" (consulta mútua) e é altamente recomendável no Islã, mas a decisão final tem que ser sua. Não adianta culpar os outros se eventualmente sua prática islâmica estiver errada. A responsabilidade de estudar para ser capaz de analisar e entender as opiniões que lhe são passadas e, consequentemente, escolher a mais apropriada, é sua.

Finalmente, não deixe de pedir a Allah em suas orações que lhe guie em todas as suas ações. Ele é o melhor Orientador. Peça a Ele que abra a sua mente e o seu coração para o Islã. Existem muitos muçulmanos que são capazes de guardar o Alcorão inteiro em sua memória, mas apenas uma parcela insignificante dele fica em seu coração. São capazes de conhecer todas as regras e legislações, mas não são capazes de captar o espírito do Islã em sua aplicação. Outros se dedicam à religião de forma sincera, mas são movidos por uma fé cega, deixando de lado a razão. E outros negligenciam ensinamentos religiosos básicos a título de modernidade e progresso, como se fosse impossível compatibilizar a prática islâmica com ideias e conceitos atuais. Peça a Allah que você não se inclua em nenhum destes casos. Peça a Ele que construa uma ponte sólida dentro de você entre fé e razão, corpo e mente, matéria e espírito, passado e presente. Este é o Islã.

 

Que a Paz de Allah esteja com você! 

 

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