Nafs e Rûh
Uma pergunta extremamente importante e altamente razoável, frequentemente feita a respeito dos termos “nafs” e “rûh” é:
“Estes termos significam a mesma coisa ou são duas entidades claramente diferentes?”
A maioria dos sábios Islâmicos concorda que o Nafs (alma) e o Ruh (espírito) são dois nomes para a mesma coisa. Entretanto, outros mantêm que são duas entidades diferentes. (1)
A última opinião é fraca, porque carece de delineamentos claros e inequívocos para estes dois termos a partir dos textos do Alcorão e da Sunah.
Na
verdade, é resultado de um engano sobre a terminologia nestes textos e
conjectura pessoal. Isto é
ilustrado claramente nos dois exemplos citados em detalhe por Ibn al-Qayyim. (2)
Ao contrário, a visão correta, como mantida pela vasta maioria dos teólogos muçulmanos e endossada pelos sábios de ahl as-sunnah (3), é que os termos “nafs” e “rûh” são permutáveis.
Entretanto, o termo “nafs” aplica-se, geralmente, quando a alma está dentro do corpo, e a palavra “Ruh” é usada quando a alma está separada dele. (4)
Embora estes termos possam ser usados permutavelmente com relação à sua essência, a diferença entre eles é meramente uma diferença nos atributos e no uso.
Cada um tem aplicações claramente distintas e restritas em determinados contextos.
Por exemplo, o termo “nafs” pode ser usado para dizer “sangue” como indica o provérbio, “Sâlat nafsuhu.” (seu sangue derramou). Desde que a morte, que ocorre quando o sangue de alguém derrama, requer a saída da alma do corpo, o sangue veio a ser chamado “Nafs.”
Adicionalmente, o termo “Nafs” pode ser usado para significar “o olho ” (“ ‘ayn”) – geralmente indicando a inveja”.
Por exemplo, quando se-diz “Asâbat nafsun fulânan” (“fulano foi atingido pela inveja.”). (5)
Às vezes, a palavra “nafs” pode representar a própria pessoa (dhât), como indicam muitos versículos do Alcorão, tal como o seguinte:
“Quando entrardes em uma casa, saudai-vos mutualmente (Anfusicum) com a saudação de Allah, abençoada e suave.”
Surata 24 ver. 61
Assim como o termo “nafs” tem diversas conotações diferentes, o mesmo acontece com o
termo “rûh”. Ele nunca foi usado sozinho para se referir ao corpo físico (badan) ou à alma quando está dentro do corpo. Ademais, ele tem vários outros usos na língua árabe e na literatura religiosa. (6)
Nas seguintes palavras de Allah ao profeta, o Ruh é usado para significar a revelação, especificamente do Alcorão:
“E Nós te inspiramos um Espírito a Nosso comando”
Surata 42 vers. 52.
Em outros lugares no Alcorão a palavra “rûh” é usada para designar o anjo Jibreel (Gabriel), a quem Allah confiou a transmissão da revelação divina.
Por
exemplo:
“Esta é uma revelação do Senhor dos Mundos trazida pelo Espírito Verdadeiro”
Surata 26, Vers. 192-193
Os vários poderes e sentidos contidos no corpo humano são chamados também de “espíritos.” Assim se diz , “ar-rûh al-bâsir” (“o espírito que vê ”) e “ar-rouh as-sâmi‘” (O espírito que ouve); e assim por diante.
Entretanto, estes são chamados “espíritos” somente pela convenção. Estes sentidos são extintos na hora da morte do corpo físico, e são diferentes do rûh, que não morre nem se desintegra.
Finalmente, o termo “rûh” é usado às vezes em um sentido extremamente restrito – para designar o espírito da fé que resulta do conhecimento de Allah, ou em procurar por Ele com amor e aspiração.
Este é o espírito com que Allah reforça Seus servos escolhidos e obedientes, como indica o seguinte versículo:
“Não encontrarás aqueles que crêem em Allah e no Último Dia amando aqueles que se opõem a Allah e Seu Mensageiro, mesmo que sejam seus pais ou seus filhos ou seus parentes ou seu clã. Deus escreveu a fé em seus corações e os fortaleceu com um Espírito vindo d’Ele…”
Surata 58, Vers. 22
Nesta maneira, o conhecimento é um “rûh” (“poder espiritual ”), como é a sinceridade, a honestidade, o arrependimento, o amor a Allah e a dependência completa d’Ele. As pessoas diferem a respeito destes tipos de poderes espirituais.
Algumas são elevadas por eles, que se transformam em seres espirituais. Assim se diz , “Fulano tem espírito”.
Outras pessoas perdem a potência de tais poderes espirituais, ou a maior parte deles, e tornam-se assim seres terrestres e bestiais (7). Sobre estas, às vezes se diz;
“fulano não tem espírito; ele é vazio como uma cana oca”. E assim por diante.
As tradições autênticas do profeta estabelecem claramente que o rûh e o nafs são essencialmente a mesma coisa. As seguintes narrações, que são duas versões diferentes do mesmo incidente, esclarecerão este ponto.
Explicam a maneira como o rûh/nafs parte do corpo de uma pessoa na hora da morte:
Umm Salamah relatou que o Mensageiro de Allah disse:
“Quando o rûh é removido, a visão o segue”
Abû Hurayrah relatou que o Profeta disse:
“Você não reparou que quando uma pessoa morre, seu olho fica fixo; isso ocorre porque sua visão segue seu nafs “ (8)
Claramente, uma vez que a palavra “rûh” foi usada na primeira narração e a palavra “nafs” foi usada na segunda, os dois termos são, essencialmente, intercambiáveis. (9)
Notas:
[1] Veja Ibn Al-Alûsî’s Jalâ’ al-‘Aynayn, pp. 142-143 e as-Safârînî’s Lawâmi‘ al-Anwâr, vol. 2, pp. 31-32.
[2] Para um relato mais detalhado de várias opiniões contraditórias, veja Kitâb ar-Rûh, pp. 296-297.
[3] Veja Kitâb ar-Rûh, pp. 294-297 e Jalâ’ al-‘Aynayn, pp. 142-143.
[4] Isto ocorre temporariamente, durante o sono; completamente, na morte; e através de vários estados encontrados daí em diante, como no túmulo, no Paraíso, etc.
[5] Veja o Léxico de Lane, vol. 2, p. 2828.
[6] Veja at-Tahâwiyyah, pp. 444-445 e Kitâb ar-Rûh, pp. 295-296.
[7] Para maiores detalhes veja Lawâmi‘ al-Anwâr, pp. 31-32; at-Tahâwiyyah, p. 445 e Kitâb ar-Rûh, p. 297.
[8] Ambos os hadiths são autênticos e foram relatados na compilação de Muslim. Veja também al-Qurtubî’s at-Tadhkirah, p. 70.
[9] Veja também Siddeeq Hasan Khân’s Fat-h al-Bayân, vol. 8, p. 232.
Texto: Versão editada do artigo 'The Nafs and The Rûh' de Abu Bilal Mustafa al-Kanadi, que foi extraído com modificações menores de "Mysteries of the Soul Expounded" ("Mistérios da Alma Expostos ") ©1994 Abul-Qasim Publishing House. Traduzido por Atef Sharia.
Retirado do site Islamic Psychology Online.