O Sistema de Nomes Islâmicos

 

Extraído do Tafseer da Surata Al-Hujuraat pelo Dr. Abu Ameenah Bilal Philips

   

O Islã dá grande ênfase à identificação clara das relações familiares. O próprio profeta (SAW) disse,

“Aprenda de forma suficiente sobre a sua linhagem para conhecer seus parentes de sangue e tratá-los adequadamente”. (At-Tirmidhee)

 

Isto é, os laços familiares deveriam ser conhecidos o suficiente para evitarem casamentos ilícitos e determinarem as obrigações de sangue e familiares.

 

Embora seja tarefa do Estado Islâmico cuidar dos seus cidadãos, a responsabilidade principal recai primeiramente sobre os membros da família. Além disso, conforme a Lei Islâmica, parentescos de sangue deveriam ser claramente definidos, sendo qualquer alteração relativa aos mesmos, estritamente proibida. Esta preocupação torna-se clara, segundo as regras dos nomes islâmicos, na qual cada nome e sua sequência implicam em um relacionamento genealógico específico.

Por exemplo, o nome Khaalid ibn Abdullah ibn Zakee al-Harbee, que atualmente é escrito Khaalid Abdullah Zakee al-Harbee; significa: Khaalid – filho de Abdullah, o qual é filho de Zakee (pertencente a tribo Harb). Este sistema de nomear as pessoas, fazendo-se referência ao nome do pai e sequencialmente ao nome do avô já havia surgido na maioria das culturas. Até mesmo em língua inglesa, George, o filho de John, tornou-se George John’s son e finalmente George Johnson. Nos tempos pré-islâmicos os árabes costumavam a modificar a linhagem dos seus filhos adotivos para a sua, e esta prática também ocorreu em época próxima ao advento do Profeta Mohammad (SAW).

Porém, Allah (SWT) proibiu este procedimento durante o período em que Suas revelações proféticas, assim como a maioria das leis religiosas, sociais e econômicas de cunho islâmico, foram transmitidas em Medina. Ibn Umar (RA) relatou que depois que o Profeta (SAW) libertou Zayd ibn Harithah e o adotou, as pessoas referiam-se a este como Zayd ibn Mohammad, até que o verso seguinte foi revelado,

“Chamem-nos pelos nomes dos seus pais, o que é mais justo aos olhos de Allah”.

(Al-Ahzab 33:5)

 

Uma vez que este princípio tornou-se parte da Lei Divina, o Profeta (SAW) foi instruído a continuar enfatizando esta revelação por uma série de advertências. Por exemplo, em uma ocasião ele disse,

“Aquele que conscientemente atribuiu sua paternidade a alguém além do seu verdadeiro pai será excluído do paraíso”.(Bukhari, Abu Dawood).

 

Abu Dharr (RA) também relatou ter ouvido o Profeta (SAW) dizer,

 

“Aquele que deliberadamente deixe ser chamado de filho de alguém, que não seja seu pai é culpado de descrença (Kufr)”.(Bukhari, Abu Dawood).

 

Portanto, o sistema árabe de nomes pessoais, de acordo com os nomes dos pais, o qual é legitimado pelo Profeta (SAW) e aprovado por Allah (SWT) é considerado o sistema de nomeação islâmica. A Lei Islâmica é completa, regula todos os aspectos da vida humana, a fim de estabelecer um sistema social, em que se cuida do bem estar humano e preserva-se o louvor a Allah.

Conseqüentemente, apesar de algumas facetas das regras de nomes islâmicos serem mais importantes do que outras, nenhuma é tão irrelevante a ponto de ser ignorada.

O fato de o Colonialismo Europeu ter corrompido a aplicação do sistema de nomeação islâmico, especialmente entre os muçulmanos não-árabes não pode de forma alguma ser ignorado. Nos tempos coloniais o sistema de nomeação ocidental foi reduzido a uma mistura sem sentido de nomes, que eram seguidos pelo nome de família. Influenciada pela cultura greco-romana, na qual as mulheres eram consideradas como propriedade dos homens, a sociedade ocidental apagou o nome da família da mulher no casamento, substituindo-o pelo do seu marido. No sistema de nomeação islâmica, a mulher mantém o nome do seu pai, como indicação da sua verdadeira linhagem.

Apesar deste aspecto, ambas tendências ocidentais degenerativas têm sido amplamente adotadas nos países islâmicos, ao lado de outras parafernálias culturais não-islâmicas oriundas do Colonialismo Europeu. Os muçulmanos convertidos, desinformados sobre as regras dos nomes islâmicos, freqüentemente adotam nomes árabes no caótico estilo europeu. Na verdade, aqueles de origem africana comumente apagam até mesmo os nomes das próprias famílias, com a convicção de que estes nomes são remanescentes dos dias de escravidão. Isto é, aqueles, cujos ancestrais eram escravos, geralmente adotaram o nome da família dos senhores dos escravos, sendo este nome passado de geração em geração.

 

Por esta razão um indivíduo, que poderia ter o nome de Clive Baron Williams, já que o seu pai era George Herbert Williams; ao converter-se ao Islã adotou o nome de Faisal Umar Nkruma Mahdi. Entretanto, seu nome, de acordo com as regras de nomeação islâmica, deveria ser Faisal George Williams, visto que Faisal é filho de George Williams. É válido mencionar que “Williams” era o nome dos seus ancestrais, proprietários das terras, fato que não traz qualquer consequência, no que diz respeito à linhagem. Desde que o nome do pai de Faisal era George Williams, ele é, de acordo com o sistema de nomeação islâmica, o filho de George Williams. A necessidade da manutenção do nome paterno tem a finalidade de evitar casamentos incestuosos, promover os direitos de herança e afirmar as responsabilidades através das relações de sangue.

 

Isto se torna especialmente importante no Ocidente, onde as relações pré-maritais e extraconjugais estão guiando de forma natural a propagação das gerações de crianças ilegítimas. Consequentemente, quando algum destes meio-irmãos e irmãs assumem nomes de famílias diferentes, existe uma grande possibilidade real de que alguém possa contrair casamento incestuoso.

 

A prática entre os muçulmanos convertidos de apagarem seus nomes de família tem freqüentemente criado um profundo ressentimento entre suas famílias não-muçulmanas, fato que poderia ser facilmente evitado se o sistema de nomeação islâmico fosse adotado. Na verdade, o muçulmano convertido não tem nenhuma obrigação de mudar até mesmo seu “nome cristão” a não ser que este contenha um significado não-islâmico. Portanto o nome Clive, que significa (cliff-dweller, ou seja, morador do penhasco), não teria necessidade de ter sido modificado, enquanto que o nome “Denis”, que representa a variação de Dionísio (O deus grego do vinho e da fertilidade, que foi adorado através de festivais de orgia), deveria ser mudado. Similarmente, nomes femininos como Lois (que significa querida) ou Ann e seus diminutivos Annie e Nancy (que significam graça) não precisariam ser alterados. Já nomes como Ingrid (filha do deus da mitologia germânica Ing) ou Laverne (retirado do nome da deusa romana da primavera e dos cereais), teria também que ser mudado.

Por outro lado, é perfeitamente aceitável que um muçulmano/muçulmana, se recentemente convertido (a) ou não, mude seu primeiro nome. Era hábito do Profeta (SAW) mudar os primeiros nomes das pessoas, se estes fossem arrogantes, negativos ou não-islâmicos. Uma das esposas de Mohammad (SAW) era originalmente chamada de Barrah (“devota”) e ele mudou este nome para Zaynab (fragmento coletado por Bukhari, Abu Dawood), como Allah (SWT) dissera no Qur'an:

“Não se julguem devotos por opinião própria, Ele sabe melhor quem é temente a Allah”.

(An-Najm 53:32).

 

Ibn Abbas (RA) relatou que outra esposa do Profeta (SAW) também tinha o nome de Barrah e que este o mudou para Jumayriyah. Ibn Umar (RA) contou que seu pai, Umar, tinha uma filha chamada Aasiyah (desobediente), a quem o Profeta (SAW) passou a chamar de Jameelah (bonita). Jabir ibn Abdullah (RA) relatou que o Profeta (SAW) decidiu proibir nomes como: Ya’laa (elevado), Barakah (benção), Aflah (bem sucedido), Yasaar (riqueza) and Naafi (benéfico).

 

Porém, o Mensageiro de Allah (SAW) nunca mudou nomes do pai das pessoas, não importavam o quanto não-islâmicos estes nomes possam ter sido. Por exemplo, quando o Sahabi Abdu Shams ibn Sakhr converteu-se ao Islã, o Profeta (SAW) cancelou o nome original Abdu Shams (escravo do sol); assim o novo muçulmano passou a ser chamado de Abdur-Rahman ibn Sakhr (fragmento coletado por Ibn Hajar al-Asqalaanee). O nome paterno Sakhr (rocha) foi deixado intocado. Da mesma forma, o Sahabi Abu Salamah teve o nome alterado para Abdullah ibn Abdul-Asad, tendo sido deixado o nome do seu pai Abdul-Asad (escravo do leão) inalterado (fragmento relatado por Ibn al-Jawzee).

 

Portanto, pode-se concluir que apagar o nome da família é tão contrário à lei quanto ao espírito do Islã. Tanto os primeiros, quanto os últimos nomes paternos deveriam ser mantidos; e caso o pai seja desconhecido, os primeiros e os últimos nomes maternos deveriam seguir o nome muçulmano escolhido (seja ele nato ou adotado, na ocasião da conversão ao Islã).

Porém deve-se dizer que existem outros títulos e nomes descritivos que podem ser acrescentados no início e/ou no final do prenome. De acordo com o sistema de nomeação islâmico, nomes pré-fixados conhecidos como Kunyah consistem de Abu (“o pai de”) no caso dos homens, e Umm (“a mãe de”) no caso das mulheres, onde os nomes são seguidos pelo nome do filho mais velho ou por alguma peculiaridade, através da qual a pessoa é notada. Algumas pessoas tornaram-se bem conhecidas pelas suas Kunyah, sendo seus nomes verdadeiros praticamente esquecidos. Por exemplo, entre os Sahabah: Abu Bakr (Abdullah ibn Uthman), Abu Hurayrah (Abdur Rahman ibn Sakhr) e Abu Laylaa (Bilal al-Ansari); entre os legistas : Abu Haneefah (Nu’maan ibn Tahabit).

 

Os sufixos são de dois tipos: Laqab, que remete a uma característica descritiva; como por exemplo, Abu Bakr era intitulado pelo Profeta (SAW) “as-Siddeq” (“o honesto”) e Umar “al-Farooq” (“o distinto”). O segundo tipo é conhecido como Nisbah, que se refere ao lugar ou a tribo, com o qual a pessoa é associada. Por exemplo, o Sahabi Abu Dharr “al-Ghifaaree” (proveniente da tribo de Ghifaar). Os estudiosos dos Hadiths como Bukhari (Muhammad ibn Ismaa’eel) (proveniente da cidade de Bukhara) e at-Timirdhee (Muhammad ibn Eesaa) (natural da cidade de Tirmidh). O sufixo Nisbah pode também fazer referência a uma profissão.

 

Vale a pena mencionar o cuidado que se deveria ter ao nomear as meninas. A prática de atribuir às filhas dois ou três nomes femininos antes do nome da família é um hábito ocidental razoavelmente recente, o qual não tem como base as regras dos nomes islâmicos. Por exemplo, uma menina com o nome de Asmaa Jameelah Zaynab Abdullah, cujo pai é Zayd Abdullah deveria ter o nome de Asmaa Zayd Abdullah, isto é, Asmaa, a filha de Zayd Abdullah. Este princípio dá-se pelo fato de que o nome dado ao homem ou à mulher de acordo com o sistema de nomeação islâmico deveria somente ser seguido pelo nome do pai ou da mãe, caso o pai fosse desconhecido, ou se a criança fosse ilegítima ou filha de pais não casados.  Portanto, o nome Asmaa Jameelah Zaynab Abdullah, conforme as regras de nomes islâmicos, significa: Asmaa é filha ilegítima de Jameelah e sua mãe Jameelah também é filha ilegítima de Zaynab, que é filha de Abdullah.

 

Texto original: "The Islamic Naming System" do Dr. Bilal Philips, retirado do site Zawaj.com  

Para obter maiores informações sobre as qualificações do Dr. Bilal Philips, visite o seu site oficial no endereço: http://www.bilalphilips.com/index.html 

 Este artigo foi traduzido por Sarah de Andrade Siqueira.

 

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