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As Mulheres Muçulmanas e a Vida Comunitária
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A
participação das mulheres muçulmanas em benefício do Islã e dos muçulmanos,
em geral, tem sido muito limitada, até agora. A maioria das nossas irmãs
dedica seu tempo livre na leitura de romances, assistindo filmes,
falando ao telefone ou visitando umas as outras. Durante estas
“visitas sociais”, o que se verifica é a manutenção de uma
conversa sem fundamento nenhum, que tem como tema principal “quem
possui mais bens materiais” (TV estéreo, vídeo cassetes, carros,
casas, jóias, etc.). Este comportamento reflete um descuido em relação
às palavras de Deus: “Aqueles que estão ocupados em competir por mais e mais até o dia de suas mortes, em breve saberão da verdade...”. (102:1-3) Uma
razão que leva nossas irmãs a não empreenderem seus tempos livres em
prol do Islã, apesar de manterem um significativo interesse pelo mundo
material, é a idéia defendida em vários círculos religiosos, com
diversos graus de intensidade, de que as mulheres deveriam concentrar
suas atenções e energias, exclusivamente, no trabalho doméstico;
sendo assim uma responsabilidade estritamente masculina o trabalho
comunitário. Naturalmente,
esta atitude ou desencoraja completamente as mulheres muçulmanas a
terem qualquer participação social, ou induz as mesmas a participarem
de círculos sociais, onde os valores islâmicos não são respeitados. *
Participação em Preces Congregacionais: A
concepção de que o papel feminino está limitado às tarefas domésticas
é, porém, uma criação das nossas mentes e não está baseada nos
preceitos de Deus e Seu Mensageiro.Em conseqüência disso, as mesquitas
seriam centros de participação muçulmana, porém alguns irmãos impedem
que as mulheres freqüentem o templo. O Alcorão e o Hadith não deixam dúvidas
de que é desejável que as irmãs visitem a Casa de Allah e façam suas
preces em conjunto, tal qual os homens. Eis aqui um dos versos corânicos
que faz referência às preces congregacionais: “E rezem regularmente e pratiquem a caridade regularmente e curvem-se com aqueles que se curvam”. (Qur'an 2:43) Aqui
o verbo curvar (em árabe = ‘arka’u) está no masculino plural,
mas existe uma regra bem conhecida da Tafsir corânica, (e com
certeza de interpretação da maioria dos escritos), em que tudo que foi
escrito no masculino plural é aplicável a ambos: homens e mulheres.Isto
só não ocorre, caso haja alguma recomendação, para que a afirmação
seja referente a um determinado sexo. Neste verso, não existe nenhuma
indicação de que as mulheres devam ser excluídas: Assim, as palavras
“rezem regularmente”, “pratiquem regularmente a caridade” e
“curvem-se com aqueles que se curvam”(isto é, rezem em congregação)
são endereçadas aos homens e mulheres, da mesma forma. Uma prova
adicional do que está sendo mencionado, pode ser encontrada em 3:43, onde
é dito o seguinte a uma das mais santas mulheres da história da
humanidade: “Oh Maria! Cultue o seu Senhor com devoção”; curve-se com aqueles que se curvam.” É
interessante notar que Deus não ordena Maria a “curvar-se com aquelas
mulheres que se curvam”, e sim se utiliza o masculino plural, que como
foi dito anteriormente, inclui homens e mulheres. A ordem de Deus a Maria
significa isto: “curve-se (ao realizar sua prece) com os seguidores (homens
e mulheres), que se curvam”. O
fato de que esta ordem tenha sido endereçada a Maria, que viveu antes do
advento do Islã, não significa que não tenha relevância para nós.
Nada do que está escrito no Alcorão sobre mulheres e homens de tempos
remotos pode ser considerado sem importância para nós, até porque o
Alcorão não nos relata histórias de tempos antigos somente para nosso
entretenimento. Estas histórias nos são contadas, com o objetivo de nos
mostrar lições morais e espirituais, porém a menos que haja indicações
do contrário, elas também constituem a base da Sharia Islâmica,
já que são amplamente reconhecidas pelos estudiosos muçulmanos (1). Conforme
estas indicações no Alcorão, nós observamos que no tempo do Profeta
(Mohammad) mulheres e homens costumavam ir a mesquita para suas preces diárias,
incluindo Fajr (oração da manhã) e Isha (oração da noite). Este é um
dos poucos fatos sobre a Sunnah nos tempos do Profeta, do qual nunca se
teve dúvida, nos últimos quatorze séculos da História Islâmica. Até
mesmo aqueles que se opõem ao fato das mulheres irem a Casa de Allah,
admitem isso.Apesar de reconhecerem este fato, os mesmos impedem ou
desencorajam as mulheres de irem a mesquita, porque passaram a adotar a
concepção de Hadhrat ‘Umar, o qual noticiou que as mulheres a caminho
da mesquita não estão seguras. Porém,
nós não podemos basear nossa conduta neste relato de Hadhrat ‘Umar, já
que em um dos Hadiths o Profeta diz especificamente para que os muçulmanos
não impeçam as mulheres de visitarem a Casa de Allah.Segundo Imam Malik
(que vivia em Muwatta), aqui está a opinião do Profeta em relação a
este tópico:
“Não
impeça as servas de Allah de irem às mesquitas de Allah”. Mais
tarde, no século terceiro, Imam Bukhari (nascido em194 A.H), incluiu no
seu Sahih uma lei similar do Mensageiro de Deus:
“Quando
a mulher de um de vós pedir para ir à mesquita, NÃO A IMPEÇA”. Se
Hadhrat ‘Umar impediu as mulheres que fossem às mesquitas, como ele
relatou ter feito, então ele fez exatamente o que o Mensageiro pediu aos
muçulmanos que não fizessem. A questão é: Hadhrat ‘Umar violou os
ensinamentos do Profeta, talvez porque não estava atento ao Hadith
encontrado em Muwatta e Bukhari?(2) Ou estes Hadiths não são autênticos?(3)
Ou porque o relato sobre Hadhrat ‘Umar, impedindo que as mulheres fossem
às mesquitas era falso?(4) É
difícil dar uma resposta precisa, porém um fato é claro feito cristal:
Se por um lado, temos alguns relatos explícitos do Profeta, por outro
lado, temos do mesmo modo, uma informação segura ou insegura sobre o
ponto de vista de um Suhabi (companheiro do Profeta). Não temos outra
escolha a não ser, concordar com os ensinamentos do Profeta,
especialmente quando o Alcorão aponta sempre a estes. Sendo assim, as irmãs
muçulmanas podem visitar as casas de Allah, sempre que puderem fazê-lo.
Da mesma maneira que visitam a mesquita, elas deveriam mostrar interesse
nas atividades desenvolvidas nestas.Em particular, elas deveriam levantar
suas vozes contra as pessoas que se manifestam tentando controlar a
participação feminina nas Casas de Allah. *
Participação em Outras Áreas:
Além
da participação nas preces congregacionais (coletivas) e nas tarefas
relativas à mesquita, as mulheres muçulmanas tanto podem, como deveriam
se envolver em outras atividades em prol do Islã, de acordo com a
disponibilidade de tempo. O islamismo não impõe limites ao nível de
envolvimento feminino às atividades em prol da comunidade islâmica. Nos
tempos do Profeta e dos seus Califas bem orientados, vemos mulheres
participando da Jihad, não somente ajudando no suprimento de água às
tropas, mas também como enfermeiras e até mesmo como combatentes.Na
batalha de ‘Uhad, por exemplo, o Profeta estava em determinada ocasião
enfrentando sozinho o ataque dos inimigos. Podemos afirmar que uma mulher
denominada Umm ‘Ammara, juntamente sua família defenderam de forma bem
sucedida o Profeta nesta hora difícil. A
primeira mártir no Islã foi uma mulher, Hadhrat Summayyah. Durante o
califado de Hadhrat ‘Umar, os muçulmanos estavam sob o ataque do exército
romano em um lugar chamado Marj as-Safar. Uma mulher muçulmana recém-casada,
Umm al-Hakim, depois de ter seu marido torturado pelos Romanos, lutou ao
lado de outros muçulmanos por quase todo o dia. Antes de anoitecer, Umm
al-Hakim foi morta por sete soldados inimigos. Os muçulmanos prestaram
homenagem a heroína renomeando Marj as-Safar para Qantara Umm al-Hakim. Nos
tempos do Profeta, também podemos observar mulheres conduzindo negócios
ou engajadas na atividade agrícola. Dentre elas podemos citar: a primeira
esposa do Profeta, Khadijah , Hadhrat e a filha de Abu Bakr, Asma. Nós
vemos mulheres ocupando posições administrativas. Após a conquista muçulmana
de Makkah, o Profeta incumbiu Umm Hani com a tarefa de decidir a quem
deveria ser dado o asilo. Hadhrat ‘Umar nomeou Shifa’bint’Abdallah
como supervisora do comércio, a qual tinha a tarefa de fiscalizar se
havia ou não corrupção nas atividades mercantis. Provavelmente, neste
cenário, Imam Abu Hanifah manteve a idéia de atribuir às mulheres
cargos de oficiais na área de finanças, fato que mais tarde ganhou força,
já que estas passaram a ocupar várias posições administrativas. Na
época do Profeta, pelo menos uma mulher ocupava a posição de Imam
durante a prece. Ela conduzia a oração em sua própria casa, auxiliando
inclusive os escravos do sexo masculino a realizarem a prece de forma
adequada. As igrejas católicas ainda estão discutindo sobre a idéia de
permitirem as mulheres a se tornarem sacerdotes, é valido dizer que mais
de dez séculos atrás, os juristas muçulmanos já haviam aceitado as
mulheres desempenhando a atividade de Imam, sem nenhuma exceção. É
verdade que o nível de participação feminina nas atividades islâmicas
era extremamente pequeno, quando comparado ao masculino, porém isto não
acontecia pelo fato do Islã oferecer obstáculos para que as mulheres
tornassem-se mais ativas perante a comunidade.Na verdade existem alguns
fatores naturais que contribuem para que o envolvimento feminino seja mais
tímido, do que o masculino. Uma vez que a mulher se casa e tem filhos,
ela fica naturalmente “presa”, pelo menos por algum tempo, ao cuidado
das crianças. Outra razão é a diferença na constituição biológica
entre os dois sexos. A mulher é fisicamente mais delicada do que o homem
e menos capaz de suportar as pressões do difícil mundo exterior. Além
disso, existe a tendência infeliz de uma parte dos homens de manter as
mulheres longe da vida social, fato que existiu até mesmo antes do
advento do Islã. O
que seria ideal para o Islã é a participação feminina na comunidade na
medida do possível, sem que a mulher negligencie seu importante papel de
mãe e esposa. Da mesma forma, é importante que o homem também tenha
participação ativa junto ao Universo Islâmico, de acordo com suas
habilidades, sem que descuide da sua responsabilidade de marido e pai. O
que nós estamos dizendo aqui é diferente da opinião defendida por
alguns escritores. Seus pontos de vista podem ser resumidos da seguinte
maneira: “Sim, as mulheres podem participar de todas as áreas da vida
coletiva, mas o melhor é que elas não o façam”. Segundo nosso ponto
de vista, é positivamente desejável e algumas vezes obrigatório que
tanto as mulheres, quanto os homens, participem coletivamente das tarefas
em prol da Ummah, sempre que puderem.De acordo com os princípios da
Tafsir Corânica (interpretação), anteriormente aqui mencionada, as
determinações do Alcorão e Hadith, no que se refere ao Jihad, ao
adquirir e propagar o conhecimento do Islã de forma verdadeira e justa, não
é responsabilidade única dos homens, mas de todos os muçulmanos (homens
ou mulheres).As leis no que dizem respeito aos aspectos pessoais da religião
como: prece, jejum, peregrinação, etc; referem-se tanto aos homens,
quanto as mulheres(com algumas recomendações em relação à
vestimenta,por exemplo); portanto os ensinamentos do Islã sobre estas e
outras questões sociais são endereçadas a ambos. Notas: (1)
Em conseqüência disso, por exemplo, Ibn Kathir, que fala pela maioria
dos intelectuais dos tempos remotos, diz o seguinte, no seu comentário
sobre outro verso relativo a Maria (3:36): “(Assim que Maria nasceu, sua mãe disse): ‘O nome dela será Maria’. Isto mostra que é permissível nomear a criança no mesmo dia, em que esta nasce. Deve-se considerar que uma Shari’ah antiga é também parte da nossa shari’ah, já que se encontra registrada no Alcorão e não pode ser alvo de contradições”. Pelo
mesmo motivo, as palavras de Deus a Maria, no que diz respeito à realização
das preces coletivas, deveriam constituir parte da estrutura da Shari’ah
Islâmica. A propósito, a história de Maria nos ensina outra perspectiva:
A mulher pode se dedicar por tempo integral ao serviço de Deus e para
atender a este objetivo viver na mesquita. Quando a mãe de Maria estava
grávida, sem se preocupar se o sexo do bebê que esperava era masculino
ou feminino, ela prometeu a Deus: “O meu Senhor! Eu vos dedico o que está no meu ventre para Vosso serviço, portanto aceite meus votos” (3:36). O que provavelmente ela tinha em mente era libertar seu filho (a), quando este (a) atingisse a idade de viver no Templo de Salomão (Masjid al-Aqsa) e servir a Deus em sua Casa Sagrada. De acordo com os costumes judeus, em geral somente os homens podiam louvar a Deus e a sua Casa desta forma. Portanto, quando a mãe de Maria olhou para a pequena menina, disse, numa mistura de felicidade e ironia: “Oh meu Senhor! Eu dei a luz a uma menina” (3:36) E “Deus estava bem ciente da Sua obra” (3:36). Ele, de forma determinada,
presenteou aquela mulher com um bebê do sexo feminino, em resposta à
promessa que ela havia feito.Por isso dizemos que o mundo pode saber que
Deus aceita a seu serviço homens e mulheres, sem nenhuma distinção. Ele
“recebeu Maria com Sua graça”. (2)
Isto não é impossível, já que existem outros casos em que Hadhrat
‘Umar supostamente adotou a idéia que posteriormente foi considerada
contrária ao Hadith Sahih. Assim os contos de Bukhari relatam que Hadhrat
‘Umar costumava pensar que a pessoa estando no estado de Junub, não
poderia realizar o Tayammum, quando a água não estivesse disponível
para banho. Ammar
bin Yasir mencionou para Hadhrat ‘Umar que o Profeta permitiu-lhe a prática
do Tayammum, quando houvesse a necessidade de um banho. Porém Hadhrat
‘Umar, por alguma razão, não deu crédito ao que Ammar havia dito.
Entretanto, mais tarde, a história de Ammar bin Yasir foi encontrada e as
pessoas começaram a proceder de acordo esta, como fazem ainda hoje,
apesar da rejeição de Hadhrat ‘Umar (3)
Isto também é possível, desde que os escritos de Muwatta e Bukhari
foram compilados por volta de 150 e 200 anos após a morte do Profeta e
este tempo é grande o suficiente para dar margem a propagação e aceitação
de relatos duvidosos, os quais podem estar presentes até mesmo em livros
cuidadosamente produzidos do Hadith. (4)
Segundo nosso ponto de vista isto é o mais provável.
Texto
original: "Muslim Women and Comunity Life" do Dr.Ahmad Shafaat,
retirado do site islâmico "Islam
- The Modern Religion"
Este artigo foi traduzido por Sarah de Andrade Siqueira.
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