O Problema Número 1 do Afeganistão?

 



As notícias relacionadas ao Afeganistão tendem a focar em um dos quatro tópicos: mulheres, Usama bin Laden, produção de ópio ou seqüestro de aviões. A cobertura destes eventos podem levar à crença de que pelo menos um deles é o pior problema do Afeganistão...

Infelizmente, o povo do Afeganistão enfrenta um perigo muito maior em suas vidas que um saudita exilado ou o fluxo de ópio no Irã e Paquistão. Vinte e cinco pessoas por dia são afetadas por este problema. 75% deles são crianças. 59% destas 25 pessoas morrerão como um resultado direto deste problema. De acordo com as Nações Unidas, este problema é tão massivo para desaparecer da noite para o dia ou mesmo até o próximo ano. O problema? Minas.

Mais de 10 milhões delas poluem a geografia do Afeganistão. É uma mina para cada pessoa que vive em Bombaim, ou uma para cada 2,5 afegãos. Existem mais de 2.500 campos minados no Afeganistão. Desde o tempo da invasão soviética (1979) até o presente, minas foram usadas POR TODOS OS LADOS em cada etapa da luta. Os soviéticos manufaturaram suas minas para que se parecessem com canetas, vasos e brinquedos. Centenas de crianças e adultos curiosos morreram após pegar uma delas. Hoje, mais de 350.000 crianças afegãs são amputadas,  resultado direto das minas.

O Afeganistão, há muito admirado por viajantes e jornalistas como uma terra de estonteante beleza natural é agora um país onde andar fora da estrada ou acostamento é arriscar sua vida ou membro.  Uma simples caminhada para um piquenique, antes um prazer essencial, é agora impossível. Escolas, aldeias, edifícios administrativos e outras estruturas são tão inseguras estruturalmente devido à contaminação das minas que não podem ser usados.

O custo para eliminar um campo minado é U$ 1 por metro quadrado, o menor custo de eliminação de minas no mundo. Em toda a cobertura da mídia que tem saído (e continua saindo) sobre o Afeganistão, muito pouco tem sido dito sobre as pessoas mantidas como reféns pelas minas, que podem ser ativadas e armadas por décadas após serem plantadas.

As minas no Afeganistão afetam homens, mulheres e crianças. Elas não distinguem entre masculino e feminino, Pushtun, Tajik, Hazara ou Turkmen (etnias existentes no Afeganistão), xiita ou sunita, criança ou adulto...

Os muçulmanos hesitam, por qualquer que seja a razão, em se envolver em causas referentes às mulheres afegãs. Mantemos nossas vozes silenciadas sobre Usama bin Ladin (independente de sua opinião sobre ele), e calmamente ignoramos a questão da produção de ópio. Asseguro que independente de sua opinião sobre o Talebã ou sua compreensão do Islã, se tornar ativo na campanha anti-mina no Afeganistão é algo que os muçulmanos PODEM e devem se unir a respeito. É uma causa apolítica, é uma causa humanitária. Enquanto falamos, ambos os lados do conflito atual continuam a usar minas em sua guerra civil.

Talvez este não seja o problema número 1 do Afeganistão, uma vez que é difícil decidir que "lugar" dar às taxas astronômicas de mortalidade infantil, fome generalizada, deslocamento populacional interno e externo, e todos os outros males do Afeganistão contemporâneo. Mas as minas estão no topo da lista das preocupações dos afegãos de cada facção política e religiosa.

Insisto que você visite a página da International Red Cross and Red Crescent (Cruz Vermelha e Crescente Vermelho Internacional) para ver o que você pode fazer, ou que visite a página da International Campaign to Ban Landmines (Campanha Internacional para Banir Minas - ganhadores do Prêmio Nobel da Paz). Descubra o que você pode fazer para contribuir para a distribuição de próteses, ou para a eliminação de um destes 2.500 campos minados.

E finalmente, faça du'a (ore) pelas vítimas das minas, tanto as vivas quanto as mortas,  e suas famílias. Certamente Allah subhannahu wa ta'ala (Deus o Altíssimo) é o Melhor dos Planejadores, e oramos para que o povo afegão mantenha sua  fé forte quando testado com a prova das minas.

 

Texto original "Afghanistan's # 1 Problem?" de Saraji Al Muslima. Saraji Al Muslima é americana convertida ao Islã.  Atualmente se dedica a pesquisar a questão afegã  e é a webmistress do site islâmico Cyber Muslima

Visite também neste site o artigo "Entender o Fenômeno Talebã, uma Tarefa Crucial para o Movimento Islâmico"

 

* Fontes da autora:

1.  Maley, William, "Mine Action in Afghanistan," Refuge, vol. 17, no. 4,  October 1998, Centre for Refugee Studies, York University, Toronto

2.  Help the Afghan Children, Inc.

 

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