1.
A palavra ‘Jihad’ (da raiz árabe Ja-Ha-Da) é um substantivo, que significa
exercer um esforço, despender uma energia, empenhar-se, trabalhando para
melhorar, esforçando-se, fazendo o melhor, e o ato em si.
Da
mesma raiz árabe vem ‘Majhood’ (esforço), ‘Mojtahed’ (a pessoa que faz
o seu melhor), ‘Ijtehad’ (a ciência islâmica de deduzir leis de fontes islâmicas
básicas), ‘Johid’ (potencial e energia, como no potencial elétrico, ou
energia) e o próprio ‘Jihad’ (persuasão, como informado no Qur'an em 29: 8, 31: 15, e 6:
109).
2.
Jihad, no Islã, significa empreender guerra contra a injustiça, a opressão, a
exploração, a tirania, o medo, a corrupção e a negação dos direitos
humanos básicos às massas (4: 75-76). É sobre a luta para estabelecer justiça, paz, liberdade
(especialmente liberdade de religião), segurança, igualdade e justiça social
(2: 193).
As
ferramentas e os recursos para executar o Jihad são: conhecimento,
esforço, ativismo, consciência, oração, persuasão, perseverança, e
advocacia, em adição ao exercício racional de pressões sociais, políticas e
militares. (9: 111), (8: 60), (9: 44-45).
As
regras de engajamento são muito rigorosas para que uma opção militar
se qualifique; conseqüentemente, nem toda campanha militar pode ser
considerada um Jihad. (2: 244).
3. Jihad no Islã não significa um meio de exercer poder, controle ou dominação, nem deve ser usado para obter ganhos pessoais, territoriais e/ou econômicos. Qualquer tipo de agressão injustificada tornaria o Jihad nulo e sem valor (2: 190-191).
4. Um dos objetivos mais
importantes do Jihad no Islã é se levantar por aqueles que são oprimidos e/ou
são expulsos de seus lares devido à perseguição religiosa (22: 39-40).
5.
Aqueles que executam o Jihad externo devem também se reformar espiritualmente
através do "al-jihad al-akbar”, um interior, pessoal e mais difícil
tipo de Jihad. (29: 69), (22: 78).
Este tipo de Jihad é o esforço espiritual e moral interno, que deve conduzir
à vitória final sobre o ego humano. Este é um importante, necessário e meritório
tipo de Jihad.
De fato, este tipo de Jihad é o que nós " empreendemos contra nossos egos
mais baixos, " de acordo com as tradições proféticas. Este esforço
pessoal feito para superar o ego é considerado “o maior Jihad, " como
dito no Hadith narrado pelo Imam Ahmed.
6. É impossível que o Jihad verdadeiro seja executado por um opressor, um
tirano, um transgressor ou um explorador; não importa como esta pessoa,
governo, ou grupo denomine suas ações. Nem pode haver Jihad verdadeiro através
daqueles que procuram somente ganhos pessoais, tribais ou nacionalistas. (9:
24).
É precisamente em tal contexto que o Jihad é entendido para não ter um
significado negativo, mas positivo, interior e exterior. É neste sentido que o
Islã tem destacado o aspecto positivo da combatividade: isto é, a paz pertence
àqueles que estão internamente (espiritualmente)
em paz, enquanto externamente em guerra contra as forças da injustiça.
7.
Jihad significa um esforço nobre para o bem da humanidade (29: 6), um que
envolve muitos sacrifícios, tais como de dinheiro, tempo, esforço, e o maior
sacrifício de todos – o da própria vida. Mas as recompensas deste ato nobre
são imensas (29: 69), (9: 41), (4: 74), (3: 142), (9: 16), (9: 111), (49: 15) e
negligenciá-lo custa caro para a humanidade. (9: 38-39), (9: 24), (9: 81).
8. Por razões políticas e históricas, entretanto, a palavra Jihad na cultura ocidental é usada predominantemente para conotar violência. É freqüentemente definida não somente como “uma guerra santa”, mas também como uma guerra empreendida contra os não-muçulmanos, um tipo de Cruzadas ao contrário.
Hoje
no Ocidente, o termo Jihad leva as pessoas a acreditar que os muçulmanos são
supostamente incentivados a pegar em armas a fim de impor sua fé pela força,
aniquilando aqueles que a rejeitam.
É lamentável que na opinião pública ocidental, entretanto, o Jihad pareça ter retido somente o significado muito restritivo"de guerra santa."
9. O Qur’an ensina explicitamente que o clero e os lugares de adoração devem
ser protegidos, declarando que Deus protege os não-muçulmanos também:
"Deus não julga um grupo de pessoas por meio de
outras? Certamente haveria a destruição de muitos monastérios, igrejas,
sinagogas, e mesquitas, dentro dos quais o nome de Deus é comemorado
abundantemente."
Esta
proibição é corroborada e elucidada pela tradição profética que proíbe
soldados de causar dano a todas as pessoas religiosas, visto que elas poderiam
logicamente terem sido os alvos preliminares, se o motivo da "guerra santa
" fosse unicamente religioso. Sem pôr a civilização ocidental em julgamento, devemos não obstante
mencionar o contraste quando, diversos séculos mais tarde, os fundadores da lei
internacional na Europa excluíram os supostos muçulmanos “infiéis” dos
benefícios da lei em tempos de guerra.
Os muçulmanos hoje continuam oprimidos em muitas partes da África, Ásia e Oriente Médio. Ainda assim, o conceito de “guerra santa " permanece sobre os muçulmanos como uma expressão de fanatismo religioso. Como os preconceitos históricos podem ser indeléveis!
10. O Jihad foi e ainda está sendo invocado em protestos muçulmanos contra
ocupação estrangeira, opressão e exploração durante os períodos colonial,
pós-colonial, e neocolonial - uma causa percebida como justa e necessária.
Entretanto, alguns muçulmanos devem carregar a responsabilidade pelo mau nome
dado ao Jihad.
Hoje,
governos e grupos contemporâneos em alguns países muçulmanos fazem referência
ao Jihad somente em seu contexto militar, e através de palavras e atos nada
sagrados procuram esconder sua falência moral, social e política. No processo
matam inocentes, causando somente a morte e a destruição, e não avançam as
causas da paz e da justiça. Lamentavelmente, eles são os que aparecem
regularmente nos jornais e na televisão.
11.
Hoje, a maioria dos muçulmanos acredita em uma das seguintes coisas sobre o
Jihad:
a.
Todos os tipos de Jihad são irrelevantes.
b.
Todos os tipos de Jihad são justificados, exceto aqueles que envolvem o uso de
resistência armada.
c.
Todos os tipos de Jihad são muito relevantes e necessários hoje, do esforço
interno espiritual contra seu ego, ao ativismo social, e a resistência armada,
sempre que a resistência armada é justificada, dentro das circunstâncias
criadas pela ocupação estrangeira, opressão, tirania e injustiça.
Texto: 'Jihad'
- Waging Peace, do
Prof. Mohamed Elmasry, presidente nacional do Canadian
Islamic Congress. Este texto foi recebido pela mala direta do Canadian Islamic
Congress, que permite a utilização e distribuição de seus artigos.
Visite também o artigo 'Jihad ou Guerra Santa?'