Racismo, Puro e Simples

 



Graças a Deus não sou um árabe.


Deixe -me dizer outra vez caso alguns de vocês não tenham compreendido bem. Graças a Deus eu não sou um árabe. 

Ofendido, chocado? Suas sensibilidades politicamente corretas foram atingidas? Triste. Porque você não deve se surpreender de modo algum.

O fato é que na América do Norte e na maioria do mundo ocidental os povos árabes não são tratados de forma justa e parecem ser o exemplo final de onde o racismo é permissível e até respeitável.
É difícil não observar isto quando lemos a cobertura das últimas violências no Oriente Médio.


Quaisquer que sejam os detalhes de como a situação ocorreu, o fato é que para cada morte trágica de um judeu israelense existem ao menos 50 corpos árabes. Os mortos incluem crianças, adolescentes e médicos em seu caminho para ajudar às vítimas

Os palestinos têm armas mas geralmente jogam pedras. Os israelenses respondem com munição afiada. Repetidamente.
Eu vi muitas demonstrações violentas e estarrecedoras em minha vida, mas fora das ditaduras eu nunca os vi tratados de tal maneira. E tais ditadores recebem invariavelmente o desprezo do mundo e um bloco inteiro de sanções.


Eu não digo que Israel iniciou a violência na área, mas eu estou profundamente chocado com a forma como tudo foi administrado. Bom para mim, a verdade clama ser ouvida.   Se os manifestantes fossem tão bem armados como seus oponentes dizem, eles não estariam caindo como moscas e teriam infligido mais danos ao inimigo.


Pior que isto, entretanto, é a maneira como a situação está sendo tratada, por exemplo, no bom e velho Canadá. Um jornalista em um de nossos jornais nacionais pareceu realmente alegar que os árabes são mentalmente doentes.


Era um doutor, disse ele, e pareceu-lhe que, psicologicamente falando, satisfazer tais povos somente os incentiva. A implicação estava clara. Esta é uma raça simples, tola. Isto é o que você tem. O doutor falou.


Tome 3.000 doses de balas de fuzil Uzi 9 mm três vezes ao dia, uma dúzia de mísseis de helicóptero antes de dormir e você estará tão bem quanto a chuva pela manhã.


Não tão mau quanto o homem que me escreveu para quem , “os árabes são animais e querem somente morrer por sua causa ridícula. Bom, quanto mais, melhor." Ele prosseguiu explicando porque eu era " um exemplo de porque os judeus nunca devem entrar em casamentos mistos." 

Você vê, três de meus avós eram judeus e minha avó materna era uma convertida (ao Judaísmo). Judia bastante para os nazistas mas não o bastante para alguns judeus.

Eu não culpo este homem tanto quanto a cultura que lhe deu forma. Os árabes são meninos maus, os árabes são terroristas, os árabes são covardes e estúpidos, os árabes são ambiciosos e primitivos, os árabes são luxuriosos e cruéis, os árabes não são como nós. Não como nós.

Filmes, shows de TV, livros, jornais - raramente um povo tem sido assim objetificado e insultado. A maioria dos homens e mulheres morrem como indivíduos, com famílias, rostos e sentimentos.

Árabes, nós devemos acreditar, morrem apenas como quadrilhas, com o sofrimento terrível de seus amados ironizado pelas pessoas confortáveis que prestam atenção aos lamentos em suas televisões, imediatamente antes de mudar o canal para o último episódio de ‘Friends’ ou ‘The West Wing’. 

Nós lemos a cobertura diária de Israel e Palestina feita por colunistas alegadamente inteligentes e objetivos,  nos jornais alegadamente sérios no Canadá e nos Estados Unidos. Pessoas que frequentemente exigem justiça, compreensão e direitos humanos. É como se de repente estivessem falando de uma guerra contra alienígenas de três cabeças de um planeta distante. 

Cada ação de um árabe é resultado de ódio e ignorância, cada gesto de um israelense é uma considerada reação à maldade sem sentido.


Eu suporto o direito de Israel existir. Eu sou um sionista que acredita na Lei do Retorno e da segurança eterna do estado judeu. Mas não a qualquer preço.

Eu às vezes penso o que eu estaria fazendo agora se tivesse crescido no West Bank ou na Faixa de Gaza, e quanta influência eu teria na mídia. Eu acho que  sei a resposta.

Eu penso também se a frustração não se transformará em ódio e o ódio em desastre. Eu oro para que não.


Outra vez, graças a Deus eu não sou um árabe.



Texto de Michael Coren. Michael Coren é jornalista no Canadá e mais artigos seus podem ser visitados no endereço: http://www.canoe.ca/Columnists/coren.html

Visite também neste site o artigo 'Anatomia do Racismo' de Hannan Ashrawi.

 

                              Home                              Artigos