Pergunta: Eu
estou confusa sobre a seguinte passagem que é parte frequente dos versos que
você cita do Q’uran:“um cativo(a) que vossa mão direita possui”. O que
é exatamente “um cativo(a) que vossa mão direita possui”? Eu sempre
entendi que o Islam proibiu a escravidão já que escravidão e igualdade
contradizem um ao outro.
Eu agradeço se você puder explicar.
Data: 15/07/2002
Nome do consultante: Kamal Badr
Resposta:
Wa `alaykum salaam waramatullah wabarakatuh!
Querida irmã Julia, obrigada pela sua pergunta.
Você está certa. O Islam proibiu a escravidão, pois é a religião que dá
direitos aos indivíduos, homens e mulheres. O Islam tornou isso claro como a
luz do dia, muitos séculos atrás, antes do slogan de “direitos humanos”
vir a ser conhecido pelos Ocidentais.
A escravidão não foi iniciada pelo Islam, ela vinha sendo praticada muito
tempo antes do advento do Islam. Como nós sabemos, é costume na guerra ter
cativos e esses cativos ou prisioneiros costumavam ser transformados em escravos
ou concubinas pelos seus donos. Isso não acontecia só nas regiões Árabes pré-Islâmicas,
mas existia em todos os lugares. Era até pior em algumas sociedades,
principalmente com as mulheres. Ela era submetida a todo tipo de injustiça,
opressão e tratamento bárbaro. Isso foi tão longe que os Gregos a
consideravam um mero produto, para ser comprado e vendido. Enquanto para os
Romanos, ela era uma escrava por natureza, mesmo sem ser capturada na guerra!
Em resumo, o Islam não é uma religião que põe em risco os direitos da
mulher, como estudiosos Ocidentais nos fazem acreditar, fabricando idéias para
distorcer a imagem do Islam. Foi o Islam que considerou a mulher como sendo a
responsável pela expulsão do homem do Paraíso? Foi o Islam que apontou a
mulher como sendo a causa de todos os males ou as julgou como serpentes? Foi o
Islam que promoveu uma reunião para debater se a mulher poderia ser considerada
como um ser humano ou não? Não! Isso aconteceu na França, em 587 d.C. Na
verdade, tudo isso eram normas correntes nas civilizações Ocidentais do
passado. Sim, isso também era hábito entre os árabes pré-Islâmicos, quando
costumava-se enterrrar vivos bebês do sexo feminino.
Quando o Islam veio, tentou por fim a todas essas práticas inumanas. O Islam não
deixou uma pedra sequer sem ser revirada na busca de possibilitar que as
mulheres tivessem seus direitos e sua dignidade recuperada. Isso está
claramente manifesto no modo como o Islam lidou com a questão da escravidão.
De início, o Islam delineou um objetivo de erradicar esse sistema barbárico.
No entanto, isso precisava ser feito gradualmente, como no caso de todos os maus
hábitos que se difundiram. As pessoas nunca desistem facilmente!
Então, antes de tudo o Islam limitou a questão de se tomar cativos somente aos
períodos de guerra. Isso apenas enquanto necessário pela hostilidade entre
estados em guerra. Depois, o Islam permitiu que as mulheres cativas se casassem
com seus captores. Mas por quê? Isso significa dar aos homens uma chance de
ouro de liberar seus desejos sexuais ou de brutalizar sexualmente essas cativas?
Não, de jeito nenhum!
Aqui existe uma sabedoria que foge completamente à mente daqueles estudiosos
Ocidentais, que tomam essa questão para lançar ataques contra o Islam.
Como sabemos, após o fim do conflito, é norma que os prisioneiros de guerra
sejam libertados e trocados através de acordo mútuo entre as partes. O Islam
tornou claro em seus textos divinos que os cativos devem ser libertados através
de resgate ou sem resgate. Também é entendido socialmente que casar com
mulheres cativas libertadas, normalmente assegurariam seus direitos mais do que
ocorreria se elas fossem libertadas sem nenhuma garantia de sobrevivência ou de
preservação de sua dignidade.
Portanto, o Islam lhes deu esperança de vida, tentando evitar que elas se
tornassem prostitutas. De fato, elas com certeza teriam dificuldades em
encontrar pretendentes, mesmo dentre os homens livres de seu povo, que
suspeitariam que elas pudessem ter sido violadas por seus captores. Ainda que
essa esperança fosse um vislumbre de início, logo ela foi consolidada
assegurando-as um lar conjugal, por meio do qual seus direitos e dignidade
seriam assegurados.
Aqui entra a questão de “ma malakat aimanukum” (o que vossa mão direita
posseui). Isso é mencionado em muitos versículos do Q’uran, como o seguinte:
“E quem dentre vós, não possuir recursos suficientes para casar-se com as
crentes livres, poderá fazê-lo com uma crente, dentre vossas cativas crentes
(Nota: “cativas“ também pode ser traduzido como: “que vossa mão direita
possui”, expressão usada na tradução para o inglês e que o autor irá
explicar mais adiante), porque Allah é Quem melhor conhece a vossa fé –
procedei uns dos outros; casai com elas, com a permissão de seus amos, e
dotai-as convenientemente, desde que sejam castas, não licenciosas e não
tenham amantes...” (Surah 4, Versículo 25)
Esse versículo confirma o que eu acabei de dizer; abrindo as portas para as
escravas ou cativas serem desposadas por muçulmanos desprovidos que não têm
recursos para o dote de mulheres livres. Note que aqui o Q’uran usa a expressão
“o que vossa mão direita possui”. Qual o significado desta expressão?
As palavras “mão direita” aqui se referem à mulheres tomadas como
prisioneiras de guerra. Não subentende-se de modo algum o concubinato, já que
isso é totalmente proibido no Islam. Nem se refere à compra de escravas do
mercado para serem usadas para satisfação de desejos sexuais. É durante a
guerra que a mão direita de fato toma posse de cativas, e isso é o que o
Q’uran quer dizer. Este é o primeiro ponto.
O segundo ponto, a expressão “mão direita possui” também tem outro
significado que reflete claramente a preocupação do Islam em preservar os
direitos dessas cativas. Como sabemos, a mão direita tem seu mérito especial e
funções privilegiadas que o homem instintivamente reserva para ela. Imam
Kurtubi, no seu comentário sobre esse versículo, diz: “Allah Todo Poderoso
usa as palavras ‘mão direita’ aqui pois elas denotam grande honra e
respeito. Basta o fato de que são as palavras usadas quando se refere à
gastar, como mencionado no hadith ‘…aquele que dá em caridade (procurando
apenas a recompensa de Allah) de um modo que sua mão esquerda não saiba o que
sua mão direita gastou...’ E é a mesma mão usada ao fazer promessa de
fidelidade…etc.”
Tudo isso indica que a expressão “o que vossa mão direita possui” tem um
significado especial e glorificado no uso Islâmico. De fato, significa o grande
cuidado e bom tratamento que cativos ou prisioneiros de guerra deveriam receber.
Este é o modo como o Islam lidou com a questão desde os primeiros estágios.
Tudo isso não se materializou de repente, já que a escravidão era uma doença
social que precisava ser apontada. Então foi uma estratégia gradual
estabelecida pelo Islam, não apenas para erradicar a escravidão, mas também
para dar aos escravos libertados uma reabilitação social completa. Primeiro o
Islam estabeleceu que todos os donos deveriam cuidar de seus cativos; eles não
deveriam ser sobrecarregados com tarefas, nem deveriam ser privados de seus
direitos humanos. O Profeta (pbuh) tornou claro em seu hadith que os donos
deveriam tratar os escravos como seus irmãos e escravas como suas irmãs, se não
na fé, pelo menos na humanidade. Ele disse:
“Seus servos são seus irmãos. Allah os colocou sob seu controle. Ele
poderia, se quisesse, vos colocar sob o controle deles (dos servos). Portanto,
qualquer um que tenha seu irmão sob seu controle, que o alimente da sua comida
e o vista das suas roupas. Nunca os sobrecarreguem com trabalhos que vão além
de suas capacidades. Se o trabalho for de certa maneira difícil, ofereça-os
uma ajuda.”
Quanto às mulheres cativas, Imam Bukhari cita que o Profeta disse:
“Se algum de vós possui uma serva, a quem dá boa educação e excelente
treinamento, e então ele a liberta e casa-se com ela, ele terá uma recompensa
dupla.”
Você vê, foi assim que o Islam estipulou o caminho de libertação dos
escravos. Eles definitivamente deveriam ser bem tratados. Também, dar educação
à mulheres cativas e casar-se com elas, após a libertação, é considerado um
ato de caridade, o qual merecerá grande recompensa. Não só isso. O Islam
ainda pôs um fim ao hábito de usar os ofensivos nomes de “escravos” ou
“servos”. Pois no Islam, o homem não deve mostrar servidão à ninguém a não
ser a Allah o Todo Poderoso. Então foi estipulado que os cativos seriam
chamados de “fatah” (rapaz) ou “fatat” (moça). Além disso, o ato de
libertar escravos costumava ser um trabalho competitivo entre os Companheiros do
Profeta, pois era altamente recomendado pelo Islam e considerado um ato de
louvor.
Ainda mais, o Islam também fez uso do que era um hábito internacional durante
aquela época, isto é, o hábito de ter relações sexuais com mulheres
cativas. O Islam estipulou que se através de relacionamento sexual, a escrava
engravidasse do seu senhor, ela automaticamente ganharia sua liberdade. Assim
como o seu filho, já que ele nasceria livre. Que caminho sábio para se
eliminar um mau hábito! Então não era um meio de satisfazer desejos sexuais.
Do contrário, teria sido algo permanente, engravidar não teria utilidade
nenhuma para a escrava, pois ela permaneceria como propriedade do seu senhor de
qualquer maneira. Não, o Islam não estava atrás de tal objetivo sensual e
voluptuoso.
Irmã Julia, para abranger todos os aspectos do tratamento humano para mulheres
escravas no Islam, seriam necessários muitos livros. Então eu creio que esta
breve observação seja suficiente por enquanto.
Para mais informações você pode visitar este link:
Does Islam
allow Slavery?
Se você tiver mais perguntas, não hesite em nos contatar. Obrigado.
O senhor Lamaan
Ball editor de Ask About Islam acrescenta:
O Islam proibiu de maneira eficaz a escravidão, proibindo fazer pessoas de
escravos, exceto temporariamente durante guerras. Uma vez que a guerra termina,
tais pessoas devem ser libertadas por negociação ou por resgate (por exemplo,
troca de prisioneiros de guerra) ou libertá-los sem nenhum resgate.
Haviam muitos modos pelos quais escravos já existentes poderiam tornar-se
livres, inclusive aqueles mencionados por Kamal, mas também para receber o perdão
de Deus por cometer um pecado, libertar um escravo foi ordernado no Q’uran .
Libertação de escravos era também uma das claras prioridades de gasto do
Governo para Zakat (gasto para caridade obrigatória administrado pelo estado).
Fatwa retirada do site islâmico Islam Online que permite sua utilização no Islamic Chat. Traduzida pela irmã Noora.