O Caminho Sufi, Segundo o Imam Nawawi

 

Introdução

O Imam Abu Zakaria Yahya Ibn Sharaf al-Nawawī, conhecido como Imam Nawawi, nasceu na Síria no ano de 1233 (631 da Hégira). Foi um jurista e estudioso de Hadiths seguidor da escola Chafi, uma das quatro escolas de jurisprudência islâmica do ramo sunita do Islã. Durante sua vida relativamente curta (morreu aos 45 anos de idade), escreveu um grande número de livros sobre os mais diversos assuntos: teologia, hadith, biografia e jurisprudência. No Brasil, duas de suas obras são muito conhecidas: O Jardim dos Virtuosos e os Quarenta Hadiths. Esses livros são conhecidos e utilizados em todo o mundo islâmico como fonte de consulta e são obrigatórios em qualquer currículo básico de Ciências Islâmicas, demonstrando o respeito e a credibilidade desfrutados pelo Imam Nawawi.

Em seu livro Al-Maqasid (maqasid significa objetivos, propósitos, em árabe) ele aborda as regras e objetivos que regem aspectos fundamentais do Islã, focando cada capítulo do livro, que tem um total de sete capítulos, em um tema. O primeiro capítulo é dedicado aos fundamentos da crença e da Lei Islâmica; o segundo à purificação e todas as suas regras; o terceiro é voltado para a oração e suas regras; o quarto para o Zakat, o tributo anual pago pelos muçulmanos; o quinto para a prática do jejum; o sexto é sobre o Hajj, ou peregrinação à Meca, e o sétimo e último é dedicado ao Sufismo e suas regras. São deste capítulo do livro do Imam Nawawi as informações a seguir.

As Regras do Caminho Sufi

As regras básicas do Sufismo são cinco: (1) temer a Deus em privado e em público, (2) viver de acordo com a sunnah em palavras e ações, (3) indiferença em relação à aceitação ou rejeição das outras pessoas, (4)  satisfação com Deus, O Altíssimo, na escassez e na abundância, e (5) voltar-se para Deus na felicidade ou na aflição.

O temor a Deus é alcançado através do escrúpulo e da retidão;

A observação da sunnah é atingida com cautela e bom caráter;

A indiferença à aceitação ou rejeição das outras pessoas é alcançada através da paciência e confiança em Deus; 

A satisfação com Deus é alcançada através do contentamento com o que se tem e submissão à Sua vontade;

Voltar-se para Deus, O Altíssimo, por meio da gratidão a Ele na felicidade e buscando refúgio Nele na aflição.

 

Os Fundamentos para as Regras

As bases de tudo isso consistem em cinco coisas: (1) aspiração elevada, (2) manutenção da reverência a Deus, (3) oferecer o melhor de serviço, (4) manter as resoluções espirituais e (5) estimar as bênçãos de Deus.

Quem tiver uma aspiração elevada, sua posição também se elevará;

Quem reverencia a Deus, Deus manterá seu respeito;

Quem presta serviço (à sua comunidade), necessariamente recebe generosidade;

Quem mantém suas resoluções espirituais continua a receber orientação;

Quem estima as bênçãos de Deus será grato por elas, e quem é grato por elas, necessariamente as verá aumentar.

 

Os Sinais do Sufismo

Os princípios dos sinais do Sufismo em uma pessoa também são cinco: (1) busca do Conhecimento Sagrado para concretizar o comando de Deus; (2) manter a companhia de sheikhs e discípulos para ver com discernimento; (3) renunciar às dispensações de obrigações religiosas e interpretações figurativas das Escrituras, por uma questão de cautela; (4) organizar o tempo com trabalhos espirituais para manter a presença do coração; e (5) suspeitar do ego em todos os assuntos, a fim de libertar-se do capricho e estar a salvo da destruição.

Compromete-se a busca do Conhecimento Sagrado ao manter-se a companhia de pessoas imaturas, seja em idade, mentalidade ou religião, que não se referem, para orientação, a um princípio ou regra firme;

Manter a companhia de sheikhs e discípulos torna-se sem efeito pela auto ilusão e pela preocupação com coisas sem importância;

Abrir mão de dispensações e interpretações figurativas pode ser comprometido pela leniência com o ego;

Organizar o tempo com trabalhos espirituais pode ser comprometido por tentar executar cada vez mais atos superrogatórios (atos devocionais opcionais), acima da capacidade daquela pessoa;

Suspeitar do ego é comprometido pela satisfação com a própria virtuosidade e retidão.

 

A Cura do Ego

Os princípios da cura do ego também são cinco: (1) aliviar o estômago diminuindo a comida e a bebida; (2) refugiar-se em Deus, o Altíssimo, quando acontecerem situações imprevistas; (3) evitar situações envolvendo algo do qual se teme ser vítima; (4) pedir continuamente o perdão de Deus (istighfar) e Suas bênçãos sobre o Profeta (Que Deus o abençoe e lhe dê paz) noite e dia com plena presença de espírito; e (5) manter a companhia daquele que guia a pessoa para Deus.

 

Aproximação de Deus

Aproximar-se de Deus, O Altíssimo, (1) arrependendo-se de todas as coisas ilícitas ou ofensivas; (2) buscando Conhecimento Sagrado na quantidade necessária; (3) mantendo continuamente a pureza ritual; (4) realizando as orações prescritas assim que entrar o horário das mesmas (e orar as sunnas confirmadas associadas a elas); (5) sempre executar oito rak'as da oração não obrigatória do meio da manhã (al-duha), os seis rakas entre o pôr-do-sol (maghrib) e a noite (isha), a oração da vigília noturna (tahajjud) depois de ter dormido um pouco, e a oração de Witr (um número ímpar de rak'as como a última oração de uma pessoa antes do amanhecer); (6) jejuar às segundas e quintas-feiras, e nos dias de lua cheia [chamados  “Dias Brancos”] (décimo terceiro, décimo quarto e décimo quinto de cada mês lunar), bem como os dias do ano que merecem jejum; (7) recitar o Alcorão com presença do coração e refletir sobre seus significados; (8) pedir muito pelo perdão de Deus (istighfar); (9) sempre invocar as Bênçãos sobre o Profeta (Que Deus o abençoe e lhe dê paz); e (10) perseverar nos dhikrs (recordações de Deus) que são sunnah de manhã e à noite.

 

Considerações Gerais

O fato de o Imam Nawawi incluir o Sufismo entre aspectos fundamentais do Islã demonstra claramente que o Sufismo não é um elemento alheio ao Islã, uma doutrina exótica e desvinculada da religião como alguns dão a entender, mas sim parte integrante do Islã e da crença e prática dos muçulmanos desde o início.

O verdadeiro Sufismo não se dissocia da Sharia islâmica e seus adeptos têm o dever de seguir os ensinamentos do Alcorão e da Sunnah do profeta Muhammad (saws). Não se questiona, entretanto, que existiram e existam indivíduos ou grupos que se autodenomimam sufis que não seguem essas fontes, ou que as seguem junto com outras práticas e interpretações não sancionadas por essas fontes, mas esses indivíduos ou grupos não podem e não devem ser usados como referência para o Sufismo. Ao contrário, é a observação ou não das fontes islâmicas que deve determinar se uma pessoa ou grupo que se define como sufi, é sufi de fato.

 

Fonte: Al-Maqasid - Nawawi's Manual of Islam - Amana Publications. 2003. Tradução para o inglês e notas de Nuh Ha Mim Keller. Elaborado por Maria Christina Moreira.

Confira também o artigo Islam, Iman e Ihsan - Os Três Níveis de Fé no Islã

Para uma explicação sobre o vínculo obrigatório entre o Tasawwuf (palavra árabe para Sufismo) verdadeiro e a Sharia assista ao vídeo de uma aula ministrada pelo sheikh Abdulaziz Al-Amghari sobre o assunto: https://www.youtube.com/watch?v=u09_lwqGWe8&t=498s (Aula em inglês com tradução para o português)

 

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